sábado, 26 de setembro de 2009

Den lille havfrue...

Não errarei muito se disser que é o ex-libris de Copenhaga. Evidenciam-no todas as brochuras turísticas, todos os livros sobre a geografia da Europa, todos os postais ilustrados, tal a 'transversalidade' do ex-libris relativamente a todo esse manancial de informação sobre a capital dinamarquesa. Falo da estátua da pequena sereia, Den lille havfrue, na língua indígena, que, desde 1913, 'vigia' uma das principais entradas do porto de Copenhaga.

Reza a história que a escultura é o resultado do 'entusiasmo' provocado no filho do fundador da Carlsberg por um bailado que tinha na fábula da pequena sereia a sua temática (com música de Piotr Tchaikovsky). A bailarina principal acabou por servir de modelo a um escultor dinamarquês, de seu nome Carl Jacobsen. Ao longo dos anos, a escultura foi ganhando notoriedade e acabou por se transformar numa das principais atracções turísticas de Copenhaga.
Quando fui pela primeira vez à mais 'sulista' das capitais nórdicas, depois de umas (poucas) horas de sono num banco do cais 6 da Københavns Hovedbanegård (a estação principal...), 'formatado' pela fama que a tal sereia já tinha granjeado, depressa me pus a caminho na direcção de uma coisa que eu sabia chamar-se Langelinie, que eu desconfiava (por analogia com o inglês) equivaler a Linha Longa e que acabaria por descobrir as razões de tal designação toponímica. De facto, a pequena sereia dista da estação cerca de 7 km, se tormarmos o caminho que passa pelo (também famoso) Nyhavn, por Kvaesthusgraven e pelo Inderhavnen, ou seja, a rota 'marítima' (porque, na sua maior parte, ao longo do porto de Copenhaga).
Eis-me finalmente no Ved Kongeporten, o pedaço de caminho final... ao fundo, um burburinho, feito essencialmente de turistas nipónicos que se empurravam uns aos outros ao mesmo tempo que iam dando uns gritinhos dignos de qualquer mestre de kung-fu e manejavam com mestria as Canon, Nikon, Pentax e outras que tais. Não havia que enganar. O objectivo da longa caminhada tinha sido alcançado. Agora, o problema era outro. Por muito que me esforçasse, não conseguia um vislumbre da célebre sereia. De facto, apesar de me poder valer do factor altura para conseguir um 'nicho' de visão através da mole humana asiática, não havia sinais da estátua. Como o burburinho estava para durar, aproveitei para ir dar uma volta na magnífica zona verde envolvente e acabei por descobrir um interessante museu sobre a Resistência dinamarquesa na II Guerra Mundial (http://www.natmus.dk/) e a Citadela (Kastellet).
Durante uma pequena trégua da 'invasão' japonesa, consegui aproximar-me da pequena sereia, tirar a respectiva foto (... com a minha Instamatic, claro), que acima se reproduz, e, de alguma forma, sofrer uma desilusão: o grande ex-libris de Copenhaga, apesar de se apresentar como uma bela escultura, media pouco mais de um metro de altura, dimensão que dificilmente se associa a um 'landmark' urbano. Pelo menos encontrei o motivo porque não consegui tirar partido do factor altura...
Voltei a Copenhaga uma série de vezes, nem sempre com tempo para ir visitar a pequena (literalmente) sereia. Numa das últimas visitas, voltei a calcorrear os tais 7 km. Lá estavam os japoneses e as suas máquinas (agora digitais...) e lá estava a estátua de olhar perdido nas águas do porto de Copenhaga. Dei por mim a pensar: tem menos 323 metros do que um outro ex-libris (a torre Eiffel) de uma outra cidade (Paris); continua, no entanto, a fazer com que milhões pisem o Ved Kongeporten para a ver.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Números...

Números... qualquer viajante é obrigado a lidar com muitos. Gleis 3, binario 7, Laituri 2, autóbusz 235, λεωφορείο 18, etc.. Alguns desses números, porque associados a momentos que, de alguma forma, assumem alguma peculiaridade (para o bem e para o mal...), acabam por ficar retidos na memória. Este é o caso do 29, o eléctrico que me transportava do centro de Praga para o Troja Camping, local de pernoita na capital da antiga Checoslováquia.

Da I.P. Pavlova, em pleno centro histórico, o tram 29 cruzava duas vezes o rio Vístula (Vltava em checo) e, entre outros 'momentos' urbanos que mereciam destaque, passava mesmo à porta do estádio de futebol do Dukla de Praga, clube que, como era frequente no Leste, foi, até 1990, patrocinado pela exército checo. Depois de tempos gloriosos nos anos 60 e 70 (excelente carreira europeia), na década de 90 o FK Dukla acabaria por entrar em declíneo (o patrocínio do exercito esfumou-se...) e o clube desapareceu do mapa futebolístico. A dez minutos do estádio, a paragem do 29. A quinze minutos (a pé) da paragem, o Troja Camping.