quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Anne Frank...


Um dos grandes 'desígnios' da minha primeira visita a Amesterdão consistia em visitar visitar o número 267 da Prinsengracht, o edifício onde Anne Frank e outras sete pessoas se esconderam da perseguição nazi de Junho de 1942 até Agosto de 1944, altura da sua prisão. Tinha lido há pouco tempo o livro, e foi impressionante percorrer os estreitos corredores, aceder aos quartos do esconderijo através de passagens secretas ou olhar para objectos pertencentes a Anne Frank, tão pormenorizadamente descritos no Diário.

Voltei à casa de Anne Frank uns vinte anos depois. Novas tecnologias, maior interactividade, espaços de exposição alargados, etc.. Foi, porém, com o mesmo fascínio que percorri mais uma vez o museu e 'revivi' a fascinante história da jovem. Aconselho uma visita a este museu, nem que seja virtual (excelente site em http://www.annefrank.org/); (ver também http://www.annefrankguide.net/).

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Uma discoteca em Helsínquia...

Depois de uns dias passados no apartamento de Vantaa, (uma cidade 'satélite' onde fica o aeroporto internacional), pertença de umas amigas recentes (companheiras de viagem desde a Dinamarca até à Finlândia), estabeleci a minha base da capital finlandesa no Rastila Camping, um parque de campismo sito em Vuosaari, a cerca de 12 km do centro da cidade. Nada de especial haveria a registar (exceptuando talvez a sauna unisexo e a magnífica praia onde era moda aguentar o frio das águas do Báltico em pelota...), não fosse o conhecimento travado com um grupo de cinco italianos da Emília-Romagna que iniciavam uma viagem de automóvel por terras finlandesas.
Foi desses sete italianos que partiu o convite para os acompanhar numa incursão nocturna ao centro de Helsínquia. Estacionado o FIAT numa das transversais da central Pohjoisesplanade (coisa que nos dias que correm era impossível, diga-se), calcorreámos cerca de 250 metros e chegámos à avenida que hoje sei chamar-se Mannerheimintie. Foi ali que percebi que para os meus novos amigos uma incursão nocturna significava ir a uma discoteca. Não me lembro do nome da coisa... lembro-me sim da cena passada à entrada. O porteiro, fardado a rigor, incluindo boné e 'smoking' cinzentos (estamos nos anos 70...), olhava persistentemente para os pés de todos aqueles que pretendiam entrar. Chegou a minha vez e ouvi um estridente "maahanpääsyn vain kengät", o que traduzido dá qualquer coisa como "só se pode entrar com sapatos". De facto, as minhas sapatilhas (apesar de serem Adidas) não cumpriam tal requisito...
Quando já me preparava para ficar à porta e me despedir dos amigos italianos para evitar estragar-lhes a noite (todos eles tinham sapatos), eis que um deles bate violentamente com a mão na própria testa e, depois de um "Porca miseria!" diz que sabe como resolver o problema. Voltámos ao FIAT. Na mala, pares de sapatos para todos os gostos... escolhi o par com o número maior. Era um 41! Para quem calça 43, foi com algum desconforto que fiz o trajecto de volta até à discoteca. Desta feita, o criterioso porteiro não arranjou motivos para me vedar a entrada. Saímos da discoteca para lá das 5 da manhã. Dei cabo dos pés. Recompus-me à tarde, depois de uma sessão de "savusauna" no Rastila Camping!
Já agora, paguei 10 markka finlandesas (o equivalente a 2 euros). Descobri também que o papelinho que dava acesso à discoteca, mais do que um mero bilhete, era uma espécie de selo fiscal... com a minha dor nos pés, contribui com 35% de 10 MK para a manutenção do 'welfare state' finlandês.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Eirol simbólico...

Com o 30º dia do mês de Agosto, chegava ao fim a validade do InterRail e percorriam-se os últimos de muitos e muitos quilómetros. Da Gare parisiense de Austerlitz partia o Sud-Express, uma composição ferroviária de passageiros que, quer quando se dirigia para as terras do sul europeu, quer quando deixava essas bandas para subir de novo até ao centro do continente, apresentava como característica diferenciadora um intenso cheiro a chouriças, chispe e produtos afins e, ainda, um número elevadíssimo de garrafões de cinco litros (digamos, uma média de 3 garrafões = 15 litros por compartimento). A este factor diferenciador não seria certamente alheia a 'portuguesidade' que predominava entre os passageiros que enchiam as composições da SNCF.
Quando as luzes de Paris começavam a esmorecer e a ser deixadas para trás, faltavam ainda mais de 24 horas para chegar a casa.
Hendaye, Irún, Fuentes d'Oñoro, Vilar Formoso constituiam pontos marcantes desta viagem percebida como quase interminável, com todos os controlos, alguns deles exasperantes (um polícia espanhol, por exemplo, demorava muito tempo a entender que a faca de mato que eu tinha na mochila servia apenas para cortar queijo e abrir latas de atum). A estes pontos marcantes, juntava-se um outro: a pequena aldeia de Eirol. Apeado do que restava do Sud-Express (cortado a metade na Pampilhosa, 1/2 para Lisboa, 1/2 para o Porto) em Aveiro, o 'conjunto' viajante/Karrimor entrava na automotora do Vouga. Cerca de 20 minutos depois, chegava-se ao apeadeiro de Eirol, apeadeiro que continua hoje a desempenhar um papel crucial na gestão do tráfego ferroviário da Linha do Vouga, (ou não esteja ali um dos poucos locais onde há via dupla). Eirol, como ponto marcante, assumia um carácter que podemos classificar como quase simbólico. Marcava o fim da aventura anual e acendia os sentidos para a necessidade de começar a gerir uma mistura paradoxal de estados de espírito, de alguma tristeza por um lado - acabou-se mais uma e agora só para o ano -, e, por outro, da dose q.b. de alegria que se pode sempre associar ao regresso a paragens familiares. Para assinalar esse quasi-simbolismo, nada melhor do que, depois de escrever coisas no cartão InterRail como Brussel (Nord)- Luxembourg, via Arlon, ou Metz-Paris, via Chalôns-sur-Marne, 'fechar' com um Aveiro-Águeda, via Eirol.