segunda-feira, 16 de junho de 2008

Ilévu e Gafana...

"Para onde vamos agora?". Esta foi a pergunta que os elementos do grupo formado na sequência do episódio da igreja que serviu de hotel em Narvik (eu, a austríaca Gabrielle, os alemães Jochen e Dietmar e a italiana Mara) sentiram necessidade de responder logo após uma excursão frustrada ao Cabo Norte (frustrada porque depois de cinco horas de autocarro entre Narvik e Tromsø decidimos voltar para trás no dia seguinte - dormimos à porta da fantástica obra de arquitectura que é a 'Catedral do Árctico", ( http://www.destinasjontromso.no/). Encontrar uma resposta que merecesse unanimidade era difícil. Dificílimo até, se considerarmos que a única linha ferroviária com saída de Narvik nos levaria de novo até Kiruna na Suécia. Resultado: o grupo desfez-se. Os alemães escolheram a hipótese Kiruna; eu, a austríaca e a italiana 'desenhámos' alternativas: ou a boleia 'rodoviária' para sul, ou o Mar da Gronelândia. Prevaleceu a hipótese do 'caminho marítimo'. O trio, ao fim da tarde, dirigiu-se para o porto da cidade. O ferry 'oficial', para além de ser carote, só partia no dia seguinte. Usufruindo do elemento "facilitador" de comunicação que eram as enormes mochilas que transportávamos às costas ("Where are you from?", etc.), conseguimos apanhar boleia num barco de pescadores até ao arquipélago das Lofoten, mais especificamente para a cidade mais importante das ilhas, chamada Svolvær (uma nota para referir que actualmente, as barreiras de acessibilidade que faziam de Narvik, das Lofoten ou de Tromsø lugares remotos já não se põem; por exemplo, em 2007, foi inaugurada uma ligação rodoviária entre Narvik e Svolvær (LOFAST- Lofotens fastlandsforbindelse).
A viagem foi longa mas animada (o stock de cerveja disponível a bordo era simplesmente impressionante! O stock de simpatia dos pescadores não o era menos!). As magníficas paisagens, talvez o melhor sinónimo para o termo fjord, também ajudaram. Cinco horas depois de termos largado as amarras no porto de Narvik (a saída de Narvik foi documentada fotograficamente pela Pocket Instamatic 200- foto ao lado), e à luz do sol da meia-noite, avistámos finalmente Svolvær. A primeira impressão foi a de um pequeno aglomerado de casas de madeira pintadas de vermleho-ocre, com uma igreja (branca, diga-se) situada num pequeno promontório a dominar. Despedimo-nos dos pescadores e, dado o adiantado da hora, fomos procurar "albergue", o que, seguindo a tradição, significou iniciar uma busca por um sítio abrigado na natureza das ilhas. Descobrimos uma praia, onde assentámos arraiais (Que frio!...).
No dia seguinte, e depois de termos comprado alguns mantimentos (leia-se bolachas e leite, pois não havia dinheiro para mais), sentámo-nos num banco da praça central da cidade, um pequeno mas agradável espaço urbano. Enquanto saboreávamos o parco pequeno-almoço, fomos abordados por um habitante local, avançado na idade, como a longa barba branca deixava perceber. Num inglês perfeito, a pergunta do costume: "Hi, where are you from?". "Italia", respondeu a Mara; "Österreich", disse a Gabrielle; "Portugal", respondi eu...
- "Portugal?!? Ilévu? Gafana?".
- Yes. Portugal?!?
- "Ilévu? Gafana?", insistia o indígena. "Bacálau!".
Fez-se luz...
- Ílhavo e Gafanha!
Fui encontrar nas Lofoten um norueguês que tinha estado em Ílhavo e na Gafanha. Tinha sido pescador e esteve ligado à pesca do bacalhau.
Recentemente, vi uma reportagem da TV que falava de três portugueses, todos eles ilhavenses, que estão nas Lofoten a trabalhar. O bacalhau continua a ser o elo de ligação entre paragens tão distantes.
www.lofoten-startside.no/index.htm
www.svolvaer.net/

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Maledetti!!!

Cantar ao "som" de "retsina" (um vinho grego que, como o próprio nome indica, cheira e sabe a resina) era uma das ocupações favoritas do grupo de "hóspedes" - (este grupo merecerá outro grau de detalhe em futuros posts) - alojado no areal de uma das praias de Gávrion, uma pequena cidade situada na ilha de Andros (arquipélago das Cíclades). "On the radio", dos Roxy Music ("There's a band playing on the radio, with the rythm of rhyming guitars...") era do vasto leque de canções (do fado ao foclore, do rock ao jazz...) a mais cantada. A minha favorita era o "Gerontocrazia", a fantástica faixa do álbum Maledetti, dos italianos Area.

Eu imitava (ou, melhor dizendo, tentava imitar) o grande Demetrio Stratos na introdução vocal (acompanhada por uma coisa parecida com um instrumento basco chamado txalaparta ou um romeno chamado toaca; ver video em http://www.youtube.com/watch?v=T2RvkrZuE9I) que antecedia o poderoso "Col pottere delle cose, posso avere la tua vita controllata e si chiama libertá..."). Esta introdução era cantada em grego, pelo que o máximo que eu conseguia consistia numa reles aproximação fonética: "Anoreksiá, ti megalo fere remuto", por exemplo. Porém, o poder da música estava bem patente! De facto, numa das sessões de canto, duas idosas locais que passavam no caminho que se abria ao longo da praia, mal ouviram a tal "aproximação fonética" começaram a esbracejar e a vociferar como se fosse o fim do mundo. Não se percebia nada do que diziam... era, no entanto, fácil concluir que as duas mulheres estavam furiosas.

Só mais tarde descobri porquê de tal reacção. A inocente aproximação fonética era tão pouco eficaz que algumas das palavras de Stratos se transformaram em palavrões gregos da "pesada"... Aqui fica a tradução italiana do grego original (facilmente se constata que dela não consta qualquer vernáculo):

"Sonno, tu che porti via i bambini, portami via anche questo; te l'ho consegnato piccolo piccolo riportamelo grande grande come una montagna slanciato come un cipresso che domini da est a ovest".

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Polska?

Os quase 1000 km entre Helsínquia e Rovaniemi demoraram quatro dias a ser percorridos. Não porque houvesse escassez de ligações (os seis comboios que diariamente ligavam as duas cidades em 1979 continuam hoje a figurar nos "aikataulut"* da VR- Valtionrautatiet, a CP finlandesa)..., mas sim porque pelo caminho aconteceram paragens "turísticas" em Rihimäki, Hämeenlinna, Tampere, Vaasa, Kokkola e Oulu. A estação de caminho de ferro de Tampere serviu de hotel na primeira noite, função que, nas noites seguintes, caberia aos parques Hoviokeudenpuisto em Vaasa e Myllytulli em Oulu. Percorridos os 230 km entre Oulu e Rovaniemi, eis-me em Rovaniemi, célebre por ser a "cidade das oito estações" (1- O sol da meia noite; 2- A estação das colheitas; 3- O Outono colorido; 4- O primeiro nevão; 5- O Natal; 6- O Inverno gelado; 7- A Primavera com neve; 8- A estação do degelo), por ter tido o espírito empreendedor (utilizando uma linguagem muito em voga actualmente) necessário para convencer meio mundo que é o local onde vivem o Pai Natal e respectivas renas (ver http://www.santaclaus.fi/), e por ali perto passar o Círculo Polar Árctico (bem perto da aldeia do Pai Natal há um sítio onde passam diplomas a quem passa o Napapiiri a pé: "Hereby we certify that fulano de tal has crossed the Arctic Circle - Napapiiri- on the... ").
Depois dos "hoteis" das noites anteriores, decidi procurar um camping. Fui ao posto de turismo à saída da estação de caminho de ferro. "Hi! Welcome to Rovaniemi!". A primeira coisa que me perguntaram foi de que país vinha. Portugal, respondi. De forma quase automática, a menina do turismo assinalou numa folha A4 com uma lista enorme de países o nome "Polska" (Polónia). Polska? Não! É Portugal!. "What?". A menina não sabia que existia um "cantinho à beira-mar plantado" chamado Portugal. Resultado: a minha visita a Rovaniemi, em termos da estatística oficial da cidade, ficou contabilizada na rubrica "Outros"!
Já agora, junto uma foto (grande Instamatic Pocket 200!) tirada no Sinettäjärvi, a norte de Rovaniemi.
*Aikataulut = horários

segunda-feira, 2 de junho de 2008

O sol da meia noite e a Kodak Instamatic Pocket 200

Esta fotografia foi tirada em Rovaniemi, a capital da Lapónia finlandesa, cerca da meia-noite. Mais do que a estranheza sentida por um miúdo do sul da Europa, a admiração pela capacidade de "capturar" o ambiente do "estate" nórdico (perdoem-me a imodéstia...), de todo inesperada devido ao material fotográfico utilizado: a rudimentar, simples e nem sempre eficaz Kodak Instamatic Pocket 200!

Ver pormenores em