quarta-feira, 10 de novembro de 2010

... a sair da boca do túnel!

E por falar em comboios... 'Live Rails' é o sugestivo título do album ao vivo que Steve Hackett, ex-guitarrista dos Genesis (anos 70), vai lançar ainda este mês. Gravado 'entre Paris, Londres e Nova Iorque', como se pode ler no site do músico (http://www.hackettsongs.com/), este álbum resulta do registo dos magníficos concertos da 'banda eléctrica' com a qual Hackett deu a volta ao mundo e promoveu o seu último trabalho de estúdio (de 'sala', melhor dizendo, uma vez que foi gravado na sala de estar do apartamento do músico), intitulado "Out of the Tunnel's Mouth".
Hackett gosta de comboios! Não é que eu precisasse de saber isso para o admirar como músico e como pessoa. Como músico, a sua obra, quer nos Genesis quer a solo, fala por si. Como pessoa, ressalta a sua simpatia e simplicidade (tive a oportunidade de o conhecer pessoalmente em Abril deste ano). Mais! Quantos músicos com o nome no Rock and Roll Hall of Fame se disporiam a apanhar um 'ferry' de Inglaterra para França e depois fazer mais de um milhar de quilómetros por estrada para ir tocar a no meio da Serra da Estrela? Hackett, acompanhado pelo seu 'brother John' e por Roger King, fê-lo, não deixando que o vulcão islandês impedisse aqueles que se deslocaram a Gouveia de usufruirem de um concerto acústico memorável.
Eu apanhei o 'último comboio para Istambul' ('The last train to Istanbul' é a última faixa do 'Out of the Tunnel's Mouth' e é o tema de abertura dos concertos) duas vezes na sua versão eléctrica e uma vez na sua versão a vapor (leia-se acústica). A Coruña, Gouveia e Lisboa foram as 'estações'. Três momentos absolutamente inesqueciveis.

sábado, 18 de setembro de 2010

Sheraton?

Parece-me que não estarei a cometer um grande erro se disser que o nome Sheraton só muito raramente se cruza com a experiência 'interrailiana'. O 'raramente', se o contexto temporal fossem as décadas de 70 ou 80, deveria dar lugar ao 'nunca'. Nos nossos dias, há evidências de um modus operandi mais 'requintado' no que toca à escolha dos sítios para passar a noite (ou não houvesse verdadeiras pechinchas na Internet), afigurando-se-me necessária a cautela expressa pelo 'raramente'.

Nunca? Não! Eu dormi num hotel da cadeia Sheraton na década de 70!

Aqui fica a história. Era a minha primeira visita a Bruxelas, capital da Bélgica e, na altura, de uma diminuta CEE que, para além dos seis países fundadores (Alemanha, Itália, Luxemburgo, Bélgica, França e Holanda), reunia ainda o Reino Unido, a Dinamarca e a Irlanda (entraram em 1973). Cheguei perto das 23 horas a Bruxelas-Norte (vindo de Roterdão). As imediações desta gare reuniam os ingredientes que permitem qualificar um pedaço de cidade como sendo pouco recomendável... uma espécie de 'red lights district', mas ao estilo de Bruxelas, não tendo nada a ver com a natureza 'familiar' e 'acolhedora' do bairro congénere de Amesterdão. Bares manhosos, transeuntes que pareciam saídos de qualquer manhoso filme de classe B, personagens encostadas à parede que iam tentando impressionar o 'mercado', algumas protegidas por pastores alemães com ar ameaçador, etc.. Resumindo, uma 'travessia' pouco agradável, mas obrigatória para chegar ao 'ponto de encontro' dos backpackers, que eu sabia de antemão ficar na Grand Place.
Eis que, no final da Rua do Progresso (o nome da via que liga a Gare do Norte ao centro... um nome curioso, dada a natureza dos negócios que nela evoluiam), deparei-me com uma praça cujo 'ambiente urbano', não obstante a proximidade à rua atrás referida, era apelativo para quem andava à procura de um local para passar a noite depois de mais uma dura jornada (a noite passada em Roterdão não foi das melhores...). Era a Praça Rogier. Num dos lados da praça, uma pequena reentrância dava acesso a umas (recatadas) escadas de serviço de um grande e moderno edifício que, de imediato, identifiquei como lugar 'confortável' para estender o saco-cama. Assim fiz. Dormi que nem uma pedra, até ser acordado pelos primeiros 'acordes' matinais do intenso tráfego motorizado e não motorizado próprio do acordar de uma grande urbe. Arrumei apressadamente a minha Karrimor, e iniciei a minha primeira visita à cidade Bruxelas. Quando saí da tal reentrância constatei que o grande e moderno edifício era nem mais nem menos que o Hotel Sheraton... tivesse eu sabido antes e teria decerto usufruido do excelente serviço de quartos!
A história não acaba aqui. Chegado a Águeda umas semanas depois, no meio dos relatos de férias e da visualização dos momentos captados pela Kodak Pocket Instamatic, contei que tinha dormido no Sheraton (mais propriamente numa das escadas de serviço) da Praça Rogier. Fiquei a saber que a minha mãe, que enquanto eu fazia mais um inter-rail, participava numa excursão aos países do Benelux, esteve hospedada no Sheraton exactamente no mesmo dia que eu. Ela num quarto situado num dos andares do hotel, eu nas escadas de serviço...



quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Uma homenagem ao Sud-Express!

RTP - LINHA DA FRENTE - Sud: O Último expresso

Uma homenagem ao Sud-Express... espero que ela não tenha ocorrido por já se ouvirem sinos a dobrar pelo mítico comboio (... 2 milhões de euros de prejuízo anual!). Pode ser que a qualidade das composições actuais (não tem rigorosamente nada a ver com o Sud-Express dos anos 70 e 80) inverta uma situação que, a continuar, ditará certamente o fim.
Uma pergunta: será que a Renfe ainda cobra a famigerada (tal a lentidão...) 'taxa de velocidade'?
Vale a pena ver.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Malta em Agosto

Mais um ano passado... com um número reduzido de posts, resultado de uma mistura de preguiça com atribulações profissionais. À semelhança do que tem vindo a ocorrer desde 2008, a passagem de mais um mês de Agosto é uma terapia eficaz para mitigar o problema da preguiça, sem esquecer que esse mês carece, geralmente, das tais atribulações. A isto não é certamente alheia a força terapêutica das viagens de férias...
O destino, este ano, foi Malta. Apesar de ser um país da UE (aderiu em 2004) e de já ter o € como moeda, as ilhas 'plantadas' em pleno Mar Mediterrâneo oferecem ao visitante algo que as diferenciam, não fossem elas, linguistica, urbanistica, cultural, sociologica e antropologicamente o resultado de uma exótica mistura de influências do sul da Europa e do Norte de África.
O que foi Malta? Entre outras coisas:
  • o contacto com uma história (e pré-história) riquíssima

As ruínas do templo de Hagar Qim (3600-3200 a.c.)

A entrada principal do palácio do Grâo-Mestre da Ordem Militar e Hospitaleira de S. João Baptista



As salas substerrâneas onde foi planeada (por Patton e Montgomery) a invasão da Sicília pelos Aliados, conhecidas por Lascaris War Rooms.



  • a apreciação de monumentos grandiosos...

A co-catedral de S. João, em Valetta

  • ... e de dádivas da Natureza

A 'janela azul', situada em Dwejra, na ilha de Gozo.


  • a participação nas cerimónias fúnebres de um antigo presidente de Malta e da Assembleia Geral da ONU, Guido de Marco

  • a degustação de uma Cisk (a principal cerveja local) no pub onde morreu o actor inglês Oliver Reed (ver história em http://www.olliereed.co.uk/)...

O 'The Pub', na Triq I-Arcisqof (La Valetta)



  • O usufruto da mobilidade de um exótico sistema de transportes públicos...



Um 'exemplar' bem ilustrativo da frota de autocarros que servem toda a ilha de Malta (os de Gozo são cinzentos e vermelhos)... lembrei-me sempre (com um sorriso, claro) do discurso tão em voga na UE sobre mobilidade sustentável).

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Keleti pu

Keleti pályaudvar! Traduzindo do húngaro resulta em qualquer coisa semelhante a estação do Este. Daqui partem de e chegam a Budapeste muitas ligações ferroviárias internacionais, transformando a estação numa referência para os viajantes que demandam terras magiares e mesmo do leste europeu. O meu primeiro contacto com a Keleti pu (como é geralmente apelidada) teve lugar em 1978, o ano de estreia no que ao Inter-Rail respeita. A estação marcou o início de uma das etapas que, naquele ano, me levariam na companhia da minha tia Maria até Cluj-Napoca na Roménia. Uma etapa cuja história inclui actividade ilegal por parte da minha tia que, não tendo conseguido comprar o seu bilhete atempadamente na Keleti pu, acabaria por subornar com marcos alemães os dois revisores, o húngaro antes do comboio cruzar a fronteira em Biharkeresztes, e o romeno já nas imediações da primeira cidade romena, de seu nome Oradea. Voltei em 1981, proveniente da então Checoslováquia. Episódios marcantes desta vez? Talvez um pedido de qualquer coisa para comer no buffet da Keleti pu, qualquer coisa que julguei ser uma espécie de costeleta, mas que 'resultou' numa espécie de pepino embebido num molho castanho de sabor inenarrável. Talvez, a descompostura que um indíviduo de fato e gravata deu a uma jovem húngara em pleno cais da estação, cuja origem, numa base puramente especulatória, pensei estar no expressivo decote que a 'descomposta' apresentava.
Regressei à Keleti pu há poucos dias. Depois de uns dias de actividade académica na cidade de Pécs (lê-se pêtche), utilizei o Inter-City que liga aquela cidade do sul da Hungria para chegar a Budapest, onde tinha de apanhar o avião para Frankfurt no dia seguinte. Diferenças? Poucas em termos estruturais e arquitectónicos. Muitas, em termos da 'clientela'... muitos 'chatos' (por exemplo, 'Taxi? Taxi? No, thank you! Taxi? Taxi? Taxi?, No, Thanks!, Taxi, etc.), muitas pessoas a pedir dinheiro à saída dos cais, algumas senhoras que, pelos seus vestidos de cores berrantes e decotes muito mais acentuados do que o da pobre rapariga alvo da ira do homem de fato e gravata, não deixavam grandes dúvidas quanto à razão da sua presença na gare. A Praça Barossi, o primeiro ponto de contacto com Budapeste para quem chega à capital húngara de comboio, estava diferente também, isto devido às obras de remodelação que aquele espaço urbano está a sofrer, como aliás se pode 'desconfiar' através da foto abaixo reproduzida.