segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

(Re)encontros virtuais...

"Políticas locais de educação". Esta foi a frase que inseri num motor de busca da WWW, resultado de uma recolha de informação sobre um tema novo que me propuseram investigar. Milhões de 'entradas' (mais concretamente, cerca de 11.500.000!!!), claro. De coisas como "Ressignificando a Política de Educação Permanente em Saúde" a "Brasília não é o local para brigar pela qualidade da educação. ... vai pensar duas vezes antes de nomear outro imbecil, como moeda de troca da política", apareceu de tudo um pouco. Conferindo utilidade à experiência acumulada de quem, há vários anos, tem na Internet uma ferramenta de trabalho essencial, a balbúrdia inicial foi-se tornando cada vez mais 'balburdiazinha', até desaguar num conjunto de 'entradas' com potencial de utilização. Fui clicando para refinar o processo de selecção e, no decurso da tarefa, deparei-me com um PDF que, apesar do seu conteúdo informacional não constituir grande ajuda, me suscitou interesse particular devido a um nome e a uma foto. Memórias de tempos idos, cronologicamente inseridas no período 'interrailiano' e geograficamente referenciadas à Grécia...
No fim do PDF, um endereço electrónico que, para além de me propiciar um meio de comunicação, me dava indicação de que o tal nome e a tal foto eram de uma colega do ensino superior, não me dizendo nada, claro, sobre se era ou não uma amiga feita em 1980 em Atenas, a quem já não via há cerca de três décadas. Enviei um e-mail onde 'contextualizava' a memória com algumas frases-chave - "Inter-Rail em 1980, Grécia (Atenas, a ilha de Andros, a retsina do Nikos...)"- e, 'just in case', pedia desculpa por uma eventual confusão. Um dia depois, veio a resposta: "...tanta imagem, tanto cheiro a mar e retsina e a tu a pingar de calor". Décadas depois, vou poder ver o 'outro lado' da fotografia tirada na ilha de Andros e que aqui se reproduz...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

... kommunikálni a magyar!

A língua húngara não despreza as suas profundas raízes nos Montes Urais, manifestando, assim, à semelhança daquilo que ocorre com línguas suas parentes (afastadas apesar da raíz comum), como sejam o finlandês ou o estónio, vocabulário e estrutura muito (mesmo muito) diferentes das restantes línguas europeias. "Nagyon köszönöm" e "a sör jó", respectivamente "muito obrigado" e "a cerveja é boa", eram das pouquíssimas coisas que eu sabia dizer na língua magyar. Desde cedo aprendemos que a eficácia da comunicação verbal implica a existência de (pelo menos) um emissor e um receptor e a partilha de um código básico que, na sua essência, configura uma língua. Sem me atrever a pôr em causa a sabedoria de tais ensinamentos, atrevo-me a questionar o status de condição sine qua non da comunicação verbal que é atribuido à partilha de um código linguístico comum. Contextualizemos...
Os cerca de 180 km que separam Hegyeshalom de Budapeste estavam a ser percorridos vagarosamente pelo comboio da MAV (Magyar Államvasutak, a CP lá do sítio). No meu compartimento, um grupo de idosos húngaros partilhavam comigo algum tédio, tédio que não terá sido alheio ao pontapé de saída para a conversa dado por um dos húngaros. Pretexto? O grande 'sol' de protesto contra a energia nuclear cosido na minha mochila: Atomkraft, nein danke!. "Deustchland?", perguntou, decerto muito mais influenciado pela língua dos escritos do tal 'sol' do que pelas minhas características físicas. "Nein, Portugal!", respondi. Foi este o inesperado mote para uma conversa que durou tanto ou mais do que as pilhas Duracell. Na ausência de partilha do tal código sofisticado, a comunicação encontrou sustento no prosaico mundo do futebol.

-Eusébio!
- Puskas!
- Coluna!
- Béla Guttmann!
- Benfica!
- Ujpest Dozsa!
- Vasas!
- FC Porto!
... etc., etc..

Ofereceram-me uma cerveja. Lá brilhei com o "Nagyon köszönöm" e o "a sör jó"...
Mais recentemente, numa viagem à China, o poder comunicacional do futebol esteve mais uma vez em evidência. Um aluno de arquitectura da Universidade de Shanghai, no seu peculiar inglês, perguntou-me:
- De que país vens?
- Portugal.
- ??????.
- Portugal.
-???????.
Desenhei um mapa da Europa num pedaço de toalha de mesa. De Este para Oeste fui apontando a França, a Espanha e, finalmente, o nosso cantinho à beira-mar plantado.
- Ehhhhhhh!!! Figo! Figo! Figo! "Pú táo yá"! "Pú táo yá"!

domingo, 18 de outubro de 2009

Lambidelas em flashback...

Não é novidade para ninguém que as viagens de avião já não são o que eram. A massificação, a competição entre companhias, as ditas 'low-cost' (a curto prazo uma 'maravilha' da mão invisível do mercado, a médio, longo prazo, o 'carrasco' da aviação civil), transformaram uma viagem de avião em algo parecido com o acto de 'apanhar a carreira'. Cabe neste contexto a recorrente busca pelo bilhete mais barato, busca que pode implicar o itinerário mais inesperado, as 'aventuras' aeroportuárias mais inusitadas, ou a antítese daquilo que se espera de uma viagem, de avião... a rapidez. Na semana que passou, recolhi evidência empirica que sugerem a existência de outras implicações...
Tendo como destino final a cidade finlandesa de Tampere, a 'melhor solução' levou-me de Lisboa a Hamburgo, de Hamburgo a Helsínquia e de Helsínquia a Tampere (o regresso ditou um Tampere-Helsínquia-Estocolmo-Lisboa). Em Hamburgo, cinco horas separavam o horário de chegada do Airbus 319 da TAP da partida do Embraer 190 da Finnair. Apesar de gostar de aeroportos e de não me importar muito de passar umas horas a apreciar o peculiar ambiente que os caracteriza, apanhei o Strassenbahn e em 25 minutos estava no centro de Hamburgo. Há 30 anos que não visitava aquela que foi uma das principais cidades da Liga Hanseática. Fi-lo quando (curiosamente) também almejava alcançar as terras nórdicas da Finlândia. Saí na Hauptbahnhof (a estação central), deambulei pela Kirchenallee, percorri as margens do Aussenalster, o grande lago, e os caminhos que, por baixo da Ponte Kennedy, levam ao Binnenalster, o pequeno lago, a praça da Câmara Municipal... um dejá vu com três décadas.
De volta à Hauptbahnhof para apanhar o S-Bahn com destino ao aeroporto, um momento para olhar para a enorme gare e os enormes gleis (cais), com particular incidência para o nº 6: em Agosto de 1979, aquela plataforma serviu-me de 'hotel'; foi naquela plataforma que fui acordado pelas lambidelas de um enorme cão da polícia ferroviária alemã; foi também ali que estive cerca de duas horas a falar italiano com um backpacker (eu pensei que ele era italiano e vice-versa) que vim a descobrir viver em Esgueira e ser estudante na Universidade de Coimbra, aliás como eu, na altura.

sábado, 26 de setembro de 2009

Den lille havfrue...

Não errarei muito se disser que é o ex-libris de Copenhaga. Evidenciam-no todas as brochuras turísticas, todos os livros sobre a geografia da Europa, todos os postais ilustrados, tal a 'transversalidade' do ex-libris relativamente a todo esse manancial de informação sobre a capital dinamarquesa. Falo da estátua da pequena sereia, Den lille havfrue, na língua indígena, que, desde 1913, 'vigia' uma das principais entradas do porto de Copenhaga.

Reza a história que a escultura é o resultado do 'entusiasmo' provocado no filho do fundador da Carlsberg por um bailado que tinha na fábula da pequena sereia a sua temática (com música de Piotr Tchaikovsky). A bailarina principal acabou por servir de modelo a um escultor dinamarquês, de seu nome Carl Jacobsen. Ao longo dos anos, a escultura foi ganhando notoriedade e acabou por se transformar numa das principais atracções turísticas de Copenhaga.
Quando fui pela primeira vez à mais 'sulista' das capitais nórdicas, depois de umas (poucas) horas de sono num banco do cais 6 da Københavns Hovedbanegård (a estação principal...), 'formatado' pela fama que a tal sereia já tinha granjeado, depressa me pus a caminho na direcção de uma coisa que eu sabia chamar-se Langelinie, que eu desconfiava (por analogia com o inglês) equivaler a Linha Longa e que acabaria por descobrir as razões de tal designação toponímica. De facto, a pequena sereia dista da estação cerca de 7 km, se tormarmos o caminho que passa pelo (também famoso) Nyhavn, por Kvaesthusgraven e pelo Inderhavnen, ou seja, a rota 'marítima' (porque, na sua maior parte, ao longo do porto de Copenhaga).
Eis-me finalmente no Ved Kongeporten, o pedaço de caminho final... ao fundo, um burburinho, feito essencialmente de turistas nipónicos que se empurravam uns aos outros ao mesmo tempo que iam dando uns gritinhos dignos de qualquer mestre de kung-fu e manejavam com mestria as Canon, Nikon, Pentax e outras que tais. Não havia que enganar. O objectivo da longa caminhada tinha sido alcançado. Agora, o problema era outro. Por muito que me esforçasse, não conseguia um vislumbre da célebre sereia. De facto, apesar de me poder valer do factor altura para conseguir um 'nicho' de visão através da mole humana asiática, não havia sinais da estátua. Como o burburinho estava para durar, aproveitei para ir dar uma volta na magnífica zona verde envolvente e acabei por descobrir um interessante museu sobre a Resistência dinamarquesa na II Guerra Mundial (http://www.natmus.dk/) e a Citadela (Kastellet).
Durante uma pequena trégua da 'invasão' japonesa, consegui aproximar-me da pequena sereia, tirar a respectiva foto (... com a minha Instamatic, claro), que acima se reproduz, e, de alguma forma, sofrer uma desilusão: o grande ex-libris de Copenhaga, apesar de se apresentar como uma bela escultura, media pouco mais de um metro de altura, dimensão que dificilmente se associa a um 'landmark' urbano. Pelo menos encontrei o motivo porque não consegui tirar partido do factor altura...
Voltei a Copenhaga uma série de vezes, nem sempre com tempo para ir visitar a pequena (literalmente) sereia. Numa das últimas visitas, voltei a calcorrear os tais 7 km. Lá estavam os japoneses e as suas máquinas (agora digitais...) e lá estava a estátua de olhar perdido nas águas do porto de Copenhaga. Dei por mim a pensar: tem menos 323 metros do que um outro ex-libris (a torre Eiffel) de uma outra cidade (Paris); continua, no entanto, a fazer com que milhões pisem o Ved Kongeporten para a ver.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Números...

Números... qualquer viajante é obrigado a lidar com muitos. Gleis 3, binario 7, Laituri 2, autóbusz 235, λεωφορείο 18, etc.. Alguns desses números, porque associados a momentos que, de alguma forma, assumem alguma peculiaridade (para o bem e para o mal...), acabam por ficar retidos na memória. Este é o caso do 29, o eléctrico que me transportava do centro de Praga para o Troja Camping, local de pernoita na capital da antiga Checoslováquia.

Da I.P. Pavlova, em pleno centro histórico, o tram 29 cruzava duas vezes o rio Vístula (Vltava em checo) e, entre outros 'momentos' urbanos que mereciam destaque, passava mesmo à porta do estádio de futebol do Dukla de Praga, clube que, como era frequente no Leste, foi, até 1990, patrocinado pela exército checo. Depois de tempos gloriosos nos anos 60 e 70 (excelente carreira europeia), na década de 90 o FK Dukla acabaria por entrar em declíneo (o patrocínio do exercito esfumou-se...) e o clube desapareceu do mapa futebolístico. A dez minutos do estádio, a paragem do 29. A quinze minutos (a pé) da paragem, o Troja Camping.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Onde estavas no...

Onde estavas no 11 de Agosto? Em 1978, estava em Cluj-Napoca, na Roménia. Em 1979, na capital finlandesa Helsínquia. Em 1980, em Zagreb, então na antiga Jugoslávia, hoje capital da Croácia. Em 1981, em viagem entre Nürnberg e Praga.
E em 2009? Em Águeda... regressado das 'comemorações' dos 31 anos sobre o primeiro Interrail. Aqui ficam alguns registos fotográficos das 'festividades' que, este ano, tiveram lugar na Alemanha e na Polónia.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

T-shirt molhada...

Nunca tal me tinha acontecido! Cerca de 45ºC, uma relativamente longa subida pelo meio das oliveiras, suor em bica, T-shirt molhada, grande carga às costas... REEEEEEEC!!! Estamos em Atenas, temperaturas elevadas (como aliás seria de esperar em pleno Agosto helénico), a longa encosta que sobe da Plaka até à Acrópole, um tecido fragilizado pelo suor e um gesto fatal: depois de uma pequena paragem numa (pequena) sombra, ao pôr de novo o saco que carregava às costas, aconteceu o tal REEEEEEEEC... a minha T-shirt preferida, aquela que dizia 'Deep Purple In Rock', com a silhueta dos magníficos cinco (Gillan, Glover, Blackmore, Paice e Lord), ficou reduzida a farrapos. Visitei a Acrópole pela primeira vez quase de tronco nu. Salvou-se a palavra 'Deep'...

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Encontros...

Os escritos de Marshall McLuhan sobre o advento da aldeia global, publicados na década de 60, não tinham ainda ganho notoriedade suficiente para sistematizar o discurso, hoje predominante, que aponta para uma pujante compressão do tempo e do espaço, de tal forma que muitos são levados a pensar no Mundo como uma 'cabeça de alfinete' (as teses, - não será o mito? -, do 'fim da geografia' estão muito associadas a esta metáfora). Apesar da falta de notoriedade do conceito de aldeia global, e apesar de não concordar com os defensores do 'fim da geografia', sou obrigado a reconhecer que o Mundo é pequeno. Só aceitando a 'pequenez' do Mundo é que não passamos para o domínio do transcendental episódios como o encontro que a foto abaixo reproduzida documenta. Numa qualquer plataforma de uma qualquer estação de caminho de ferro de um qualquer país europeu (minto, foi na França...), deparo com amigos portugueses que já não via há uns tempos largos. Jogadores de xadrez de gabarito e, um deles, actualmente, meu colega.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

II Guerra Mundial...

Os anos de guerra de 1939 a 1945 limitam um dos períodos da história mundial que desde sempre me despertou um interesse particular. Daí a tentativa de aproveitar a passagem por muitos locais ligados à história da Segunda Guerra Mundial para contactar de perto com espaços e 'momentos' marcantes daquele período turbulento do continente europeu.
Em Munique pela primeira vez, e 'munido' do conhecimento prévio que três volumes sobre a a II Guerra Mundial, publicados pelas Selecções do Reader's Digest ainda antes do 25 de Abril de 1974, um dos tais espaços marcantes ficava na Odeonplatz, porque palco de um dos eventos cuja sequência acabaria por culminar no início do conflito armado. A referência, mais do que o nome da praça, era o seu ex-libris, o Feldherrnhalle (na 'Pocket' foto).

O Feldherrnhalle foi erigido como tributo ao exército bávaro que combateu na guerra franco-prussiana (1870). Porém, não foi devido a esse tributo que o monumento ficou famoso, mas sim aos acontecimentos que junto a ele tiveram lugar no dia 9 de Novembro de 1923 . Neste dia, os partidários de Adolf Hitler organizaram uma manifestação ilegal, evento que não terá siso mais do que uma tentativa de tomar pela força o poder na Baviera, inspirada aliás pela marcha sobre Roma comandada pelo fascista Benito Mussolini. Instados a dispersar pela polícia, os manifestantes não obedeceram, acto que levou a uma troca de tiros que provocaria 20 mortos (16 entre os nazis e 4 entre os polícias) e umas boas dezenas de feridos.

A manifestação iniciou-se no interior de uma das maiores 'beer hall' de Munique, a Bürgerbräu Keller, palco usual dos discursos inflamados de Hitler antes da sua subida ao poder. A tentativa de assalto ao poder ficou até conhecida como o 'Beer Hall Putsch' (Putsch em alemão significa golpe de estado). Felizmente livres de tais discursos, os 'beer hall' continuam a ser marcantes na vida social de Munique, o que pode ser constatado através de informação contida em muitos sítios da WWW (e.g., http://www.brewersofindianaguild.com/ostrander/Germany-Bavaria-Beer/24-MunichBeer.html). Cansado da minha 'perseguição' da história, visitado o Feldherrnhalle, sentei-me numa das longas mesas de uma dessas 'catedrais' da cerveja, não na Bürgerbräu Keller, que já não existia, mas na Hofbräuhaus (http://www.hofbraeu-muenchen.de/index.html?PHPSESSID=fc5d16841e5419cc5afc12d364c26b40). Uns anos mais tarde vim a descobrir que até aquele 'beer hall' estava ligado ao famigerado líder nazi. De facto, reza a história que foi naquela casa da cerveja que Hitler, em 1920, deu a conhecer as grandes linhas do programa nacional-socialista. O 'Prost' que disse na altura ao mesmo tempo que erguia uma caneca na mão, ganhou um novo significado. Brindei, de facto, à derrota do terror nazi e fascista na Europa.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Visitando WA Mozart...

Em pleno centro da cidade de Salzburg, na Getreidegasse, fica a casa onde, em 1756, nasceu Wolfgang Amadeus Mozart. Esta casa-museu (http://www.mozarteum.at/) faz parte da impressão de que há uma presença constante do compositor nas mais variadas expressões da vida urbana de Salzburg, desde o chocolate até à música nas casas de banho públicas. Sendo assim, havia que visitar a casa onde tudo começou.

Depois de efectuar a visita, confesso que fiquei com um sabor a pouco... mas, fiquei a saber que o nome 'oficial' do prodígio era qualquer coisa como Johannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilius Mozart (!), vi o seu primeiro violino e o berço onde foi colocado depois da sua mãe, Anna Maria, o ter posto no mundo. Fiquei contente...

Puccini, Verdi, Mozart, calças de ganga...

A música foi sempre, e continua a ser, a arte que mais de perto me acompanha. Não é de estranhar. Cresci (literalmente) a ouvir as obras de Puccini, Verdi, Leoncavallo, Mascagni, etc., através de vozes como a de Gigli, Tebaldi, Berganza ou Callas, de Mozart, Grieg, Dvorak, Liszt, Beethoven, Bach, etc., através de abordagens inspiradas de von Karajan, Itzhak Perlman, Mstislav Rostropovich, etc.. Tive o privilégio, ainda criança, de assistir a grandes produções de música clássica (designadamente ópera). Nestas ocasiões, o fascínio sentido por um 'puto' da minha idade extravasava a música e estendia-se à 'ambiência' de grande solenidade que parecia rodear todo o espectáculo. Gente muito séria, cheia de 'boas maneiras' nos seus 'fatos de grilo' (eles) e nos seus vistosos vestidos compridos (elas). O S. Carlos, em Lisboa, era naturalmente, o paradigma desta 'ambiência' fascinante.
Cresci e, apesar de ter continuado a gostar da música, comecei a perder o tal fascínio, talvez porque fui constatando que aquilo que motivava a ida ao teatro de muita da tal gente séria se relacionava muito mais com o mostrar-se numa espécie de 'feira das vaidades' do que com a 'arte de combinar os sons' propriamente dita. Será que para ouvir o 'Vissi d'arte' (já agora http://www.youtube.com/watch?v=_OIExoUb8jk) implica vestir um 'smoking' e substituir as calças de ganga por uma daquelas da listinha brilhante? À dose (suportável) de elitismo cultural, juntava-se uma (insuportável) dose daquilo que pode designar-se por- perdoem-me o termo - 'cagança' social. O que tem isto a ver com o tema deste blog? A resposta leva-nos até à cidade de Salzburg.
Cheguei àquela cidade austríaca de madrugada. Ainda na estação, vi um grande cartaz que me permitiu constatar que estava a decorrer o célebre Festival de Música de Salzburg (http://www.salzburgerfestspiele.at/), um evento que eu já sabia ser ponto de encontro de nomes maiores do panorama mundial da música clássica. Não admira. 'Respira-se' música nas ruas da cidade. São os muitos estudantes de música que, com os seus violinos, guitarras, tubas, violoncelos, etc., animam os becos, as praças, as avenidas; é a música-ambiente que se ouve nas esplanadas dos inúmeros cafés existentes no centro (não é que me tenha sentado nalguma delas, tal a quantidade de Schillings que era preciso desembolsar...) e a que ajuda os visitantes da casa onde nasceu o génio WA Mozart a passar o tempo na interminável bicha; é a Sinfonia nº 41 de Mozart a 'abrilhantar' os momentos passados em qualquer casa de banho pública...
Consegui a brochura com o programa completo do Festival. Entre os muitos eventos musicais que enchiam o mês de Agosto, chamou-me a atenção uma série de concertos destinados a jovens. Fui até à Felsenretisschule, um magnífico edifício construído na pedreira de onde saíram as pedras que serviram para erguer a catedral e que, depois de ter servido de escola de equitação, foi transformado em teatro (nos anos 20). Preços reduzidos, espectáculo fabuloso... e milhares de calças de ganga a encher o espaço!
É importante referir que em Portugal, na altura, as oportunidades para as 'calças de ganga' entrarem em contacto com as confortáveis cadeiras de qualquer teatro onde tivessem lugar eventos de música clássica eram praticamente inexistentes. Hoje, felizmente, este estado de coisas mudou e estamos finalmente a aproximarmo-nos daquilo que acontecia em Salzburg há 30 anos atrás. Mais vale tarde do que nunca...

sábado, 13 de junho de 2009

Sem 'cobertura'...

Nos anos 70/80 o passe Interrail cobria uma vintena de países, um dos quais fora da Europa (Marrocos). Para lá da 'cortina de ferro', o passe apenas era válido na Hungria, Roménia e Jugoslávia. Mesmo nestes três países, os 'suplementos' que os 'interrailers' tinham de pagar eram muitos. Na imagem, exemplares dos bilhetes referentes a uma série de viagens na então Checoslováquia (Cheb-Praha; Praha-Jihlava, Brno-Komarom) e aos suplementos pagos em vários trajectos da Roménia (Bistrita-Nasaud, Cluj-Bistrita, Bucuresti-Costinesti, etc.).
Importa referir que a obrigatoriedade de comprar bilhete deu azo à experiência curiosa de pedir boleia em países sem tradição neste 'modo de transporte'. Na Checoslováquia, por exemplo, deixar Tabór rumo a uma qualquer outra cidade checa (desde que situada a Sul...) à boleia revelou-se uma impossibilidade. Alguém daria boleia a um 'extraterrestre' especado numa qualquer estrada secundária da Checoslováquia profunda? 'Extraterreste', porque foi exactamente como um qualquer 'invasor' de um planeta estranho que eu me senti à saída de Tabor. Gorada a tentativa, lá foram calcorreados mais 4 km até à estação de caminho de ferro mais próxima...

Nikos...

Sem me esforçar muito, consigo contar pelo menos cinco amigos gregos cujo primeiro nome é Nikos. Há, no entanto, um sexto Nikos que, apesar de nunca mais o ter visto nem contactado e de nem sequer me lembrar do seu apelido, tem um lugar relevante no meu 'saco' de memórias. Apesar da sua má qualidade, a foto mostra o tal Nikos, com o seu fio de ouro que trazia pendente uma estranha miniatura de um ícone ortodoxo e com o seu altivo bigode, típico do macho helénico. Na mesa, as 'silhuetas' de várias garrafas de... retsina. À volta da mesa, para além do Nikos, um grupo de portugueses que se foram encontrando ao longo do caminho 'Interrailiano'. Na 'moldura' virtual da foto, uma taverna, a localidade de Gavrion e a ilha de Andros.
Como decerto o leitor já desconfiou, as garrafas de retsina são a chave para que se faça luz para a manutenção deste Nikos do bigode helénico no tal 'saco'. Já lá vamos... Antes, deixem-me dizer que a retsina é um vinho que, segundo reza a história, é feito há mais de 2000 anos. A mesma história diz-nos que na origem da retsina está a 'tecnologia' usada pelos gregos antigos para evitar que o oxigénio do ar estragasse o vinho depositado em barris de madeira. As propriedades isolantes da resina do pinheiro eram, pelos vistos, as ideais para salvaguardar o vinho dos efeitos do contacto com o ar. A aplicação de resina nos barris acabaria por afectar o sabor do vinho. O sabor alterado do vinho deve ter agradado aos gregos antigos e o vinho resinado acabaria por se afirmar, continuando hoje a ser uma 'atracção' da Grécia moderna.
Numa ilha que estava (ainda está, diga-se) longe de fazer parte dos circuitos turísticos mais concorridos da Grécia, um grupo de seis portugueses suscitou o interesse e curiosidade de muitos habitantes locais. Na taverna onde os seis portugueses entraram para comprar água (!), fomos abordados pelo Nikos de Gavrion. Num grego salpicado por algumas palavras alemãs (por exemplo, sitzen e trinken), lá se foi fazendo entender. Estava a convidar-nos para partilhar com ele uma mesa. Aceitámos (claro!) o convite. Num ápice, a mesa encheu-se de garrafas dominadas pelo amarelo, do rótulo ao líquido. Depois dos primeiros Gia sou! (o 'à saúde' lá do sítio), provámos pela primeira vez a célebre retsina. Confesso que a primeira reacção não foi a mais favorável. A pergunta feita pelo Pedro de Odivelas, - 'o que é esta merda?' - é uma boa ilustração de tal reacção. Porém, se por um lado não queríamos parecer mal educados para com o nosso anfitrião, por outro, à medida que íamos esvaziando as garrafas que não paravam de chegar à nossa mesa, íamos alterando a opinião inicial sobre a 'coisa'.
Bebemos muito... mesmo muito. O Nikos de Gavrion pagou tudo e, já noite avançada, deixou-nos. Foi a última vez que o vi. Regressámos ao nosso 'hotel' na praia. A manhã seguinte foi terrível... a secura, a intensidade do sabor a resina que se mantinha na boca... uma ressaca 'grandiosa'. Tão grandiosa que dificilmente conseguiria esquecer o Nikos de Gavrion e a sua grande simpatia.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Napapiiri, polcirkeln, polarsirkelen...


Primeira passagem pelo Círculo Polar Árctico na Finlândia (devidamente certificada)... segunda passagem na Noruega (devidamente documentada).