quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Fumos, forints e coroas...



Um dos grandes problemas que os 'backpackers' fumadores que calcorreavam a Europa de comboio enfrentavam dizia respeito à aquisição da matéria que permitia dar resposta às exigências do vício. Já na altura, comprar um maço de tabaco na Suécia ou na Alemanha, para quem dispunha de um orçamento que mal dava para comer, era muito complicado. A solução, geralmente, passava pela compra de tabaco de enrolar (e.g. Samson) e pela capacidade de o poupar (a capacidade de 'cravar' também não era despicienda).
A excepção à regra 'Samson' ganhava substância nos países que se situavam para lá da Cortina de Ferro. Na Hungria, um maço de Románc custava 6 Forints (na altura, cerca de 7 escudos). O mesmo se pagava por um maço de Metropol Multifilter. O Sopianae Multifilter era um bocado mais carote (1o forints). Na Checoslováquia, 5 coroas checas eram suficientes para adquirir os king size Dalila (que continuam hoje a estar entre os mais vendidos na actual Eslováquia) ou os F20 Filter de Praga.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Bologna ancora...

Bologna, Agosto de 1980...

Cheguei a Bolonha pouco tempo depois do atentado terrorista que matou cerca de 90 pessoas e feriu mais de 200 na principal estação ferroviária daquela cidade italiana. A bomba, colocada numa concorrida sala de espera destruiu o edifício principal da estação e, ainda, uma composição que se encontrava no cais 1 (se bem me lembro vinha de Ancona e destinava-se a Chiasso). O comboio em que eu seguia, proveniente de Roma, parou muito antes do edifício da gare. Mandaram sair todos os passageiros, que, surpreendidos e apreensivos, desde logo saltaram para o meio das muitas linhas férreas. Dirigimo-nos a pé até às plataformas e, do lado esquerdo, lá estava o resultado devastador do atentado bombista. Apesar de todas as tentativas para esconder o efeito da explosão dos muitos passageiros que iam chegando à estação, os destroços e a inerente sensação de que algo muito grave se tinha passado naquele local estavam bem patentes.
À medida que as informações iam chegando, aumentava o misto de tristeza e revolta por um acto que ainda figura entre os mais devastadores atentados terroristas ocorridos no continente europeu. As opiniões que ouvia da boca dos cidadãos bolonheses sobre o porquê da violência convergiam para um ponto único: os terroristas quiseram "castigar" uma das cidades mais "vermelhas" de Itália.

O atentado foi atribuido a um grupo neo-fascista, o NAR- Nuclei Armati Rivoluzionari. Em 1987, mais de uma dezena de suspeitos de terem participado no atentado começaram a ser julgados. O processo, longo, com muitas sentenças, recursos e contra-recursos, acabou por atingir não só o grupo neo-fascista, como também altas esferas dos serviços secretos e a célebre loja maçónica P2. Uma grande confusão juridica que ainda dura...
Demorei pouco tempo em Bologna. Uns bons anos mais tarde, regressei à bela cidade da Emilia-Romagna e, na estação de caminho de ferro, lá continua o velho relógio, cujos ponteiros deixaram de se mover devido ao efeito da explosão, a marcar, desde Agosto de 1980, as 10.25.