terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Cinema...

Por 2,50 Lei fui ao cinema em Bistriţa. Não me lembro do título do filme. Era de um cineasta romeno, (do qual o nome também me escapa...), famoso devido aos seus retratos neo-realistas da vida do dia a dia no país do Ceaucescu.
O filme retratava a vida numa pequena aldeia de agricultores perdida algures na Transilvânia. O retrato a preto e branco era, em termos de cenografia e fotografia, impressionante. A minha 'impressão' ficou-se aliás por aqui, uma vez que os diálogos e o enredo ficaram perdidos, como a aldeia que o filme focava, na minha incapacidade de perceber a Limba română, apesar das raízes comuns e da partilha de muitos vocábulos com o português.
O primeiro artigo da Declaração Universal dos Direitos do Homem, em romeno, fica assim:
"Toate fiinţele umane se nasc libere şi egale în demnitate şi în drepturi. Ele sunt înzestrate cu raţiune şi conştiinţă şi trebuie să se comporte unele faţă de altele în spiritul fraternităţii".

Mais uma do sol da meia noite e a Kodak Instamatic Pocket 200

Aqui fica mais uma foto do sol da meia noite visto através da objectiva da grande Pocket Instamatic 200. Desta vez, a imagem foi captada durante a viagem entre Narvik e o arquipélago das Lofoten, na Noruega.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Anne Frank...


Um dos grandes 'desígnios' da minha primeira visita a Amesterdão consistia em visitar visitar o número 267 da Prinsengracht, o edifício onde Anne Frank e outras sete pessoas se esconderam da perseguição nazi de Junho de 1942 até Agosto de 1944, altura da sua prisão. Tinha lido há pouco tempo o livro, e foi impressionante percorrer os estreitos corredores, aceder aos quartos do esconderijo através de passagens secretas ou olhar para objectos pertencentes a Anne Frank, tão pormenorizadamente descritos no Diário.

Voltei à casa de Anne Frank uns vinte anos depois. Novas tecnologias, maior interactividade, espaços de exposição alargados, etc.. Foi, porém, com o mesmo fascínio que percorri mais uma vez o museu e 'revivi' a fascinante história da jovem. Aconselho uma visita a este museu, nem que seja virtual (excelente site em http://www.annefrank.org/); (ver também http://www.annefrankguide.net/).

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Uma discoteca em Helsínquia...

Depois de uns dias passados no apartamento de Vantaa, (uma cidade 'satélite' onde fica o aeroporto internacional), pertença de umas amigas recentes (companheiras de viagem desde a Dinamarca até à Finlândia), estabeleci a minha base da capital finlandesa no Rastila Camping, um parque de campismo sito em Vuosaari, a cerca de 12 km do centro da cidade. Nada de especial haveria a registar (exceptuando talvez a sauna unisexo e a magnífica praia onde era moda aguentar o frio das águas do Báltico em pelota...), não fosse o conhecimento travado com um grupo de cinco italianos da Emília-Romagna que iniciavam uma viagem de automóvel por terras finlandesas.
Foi desses sete italianos que partiu o convite para os acompanhar numa incursão nocturna ao centro de Helsínquia. Estacionado o FIAT numa das transversais da central Pohjoisesplanade (coisa que nos dias que correm era impossível, diga-se), calcorreámos cerca de 250 metros e chegámos à avenida que hoje sei chamar-se Mannerheimintie. Foi ali que percebi que para os meus novos amigos uma incursão nocturna significava ir a uma discoteca. Não me lembro do nome da coisa... lembro-me sim da cena passada à entrada. O porteiro, fardado a rigor, incluindo boné e 'smoking' cinzentos (estamos nos anos 70...), olhava persistentemente para os pés de todos aqueles que pretendiam entrar. Chegou a minha vez e ouvi um estridente "maahanpääsyn vain kengät", o que traduzido dá qualquer coisa como "só se pode entrar com sapatos". De facto, as minhas sapatilhas (apesar de serem Adidas) não cumpriam tal requisito...
Quando já me preparava para ficar à porta e me despedir dos amigos italianos para evitar estragar-lhes a noite (todos eles tinham sapatos), eis que um deles bate violentamente com a mão na própria testa e, depois de um "Porca miseria!" diz que sabe como resolver o problema. Voltámos ao FIAT. Na mala, pares de sapatos para todos os gostos... escolhi o par com o número maior. Era um 41! Para quem calça 43, foi com algum desconforto que fiz o trajecto de volta até à discoteca. Desta feita, o criterioso porteiro não arranjou motivos para me vedar a entrada. Saímos da discoteca para lá das 5 da manhã. Dei cabo dos pés. Recompus-me à tarde, depois de uma sessão de "savusauna" no Rastila Camping!
Já agora, paguei 10 markka finlandesas (o equivalente a 2 euros). Descobri também que o papelinho que dava acesso à discoteca, mais do que um mero bilhete, era uma espécie de selo fiscal... com a minha dor nos pés, contribui com 35% de 10 MK para a manutenção do 'welfare state' finlandês.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Eirol simbólico...

Com o 30º dia do mês de Agosto, chegava ao fim a validade do InterRail e percorriam-se os últimos de muitos e muitos quilómetros. Da Gare parisiense de Austerlitz partia o Sud-Express, uma composição ferroviária de passageiros que, quer quando se dirigia para as terras do sul europeu, quer quando deixava essas bandas para subir de novo até ao centro do continente, apresentava como característica diferenciadora um intenso cheiro a chouriças, chispe e produtos afins e, ainda, um número elevadíssimo de garrafões de cinco litros (digamos, uma média de 3 garrafões = 15 litros por compartimento). A este factor diferenciador não seria certamente alheia a 'portuguesidade' que predominava entre os passageiros que enchiam as composições da SNCF.
Quando as luzes de Paris começavam a esmorecer e a ser deixadas para trás, faltavam ainda mais de 24 horas para chegar a casa.
Hendaye, Irún, Fuentes d'Oñoro, Vilar Formoso constituiam pontos marcantes desta viagem percebida como quase interminável, com todos os controlos, alguns deles exasperantes (um polícia espanhol, por exemplo, demorava muito tempo a entender que a faca de mato que eu tinha na mochila servia apenas para cortar queijo e abrir latas de atum). A estes pontos marcantes, juntava-se um outro: a pequena aldeia de Eirol. Apeado do que restava do Sud-Express (cortado a metade na Pampilhosa, 1/2 para Lisboa, 1/2 para o Porto) em Aveiro, o 'conjunto' viajante/Karrimor entrava na automotora do Vouga. Cerca de 20 minutos depois, chegava-se ao apeadeiro de Eirol, apeadeiro que continua hoje a desempenhar um papel crucial na gestão do tráfego ferroviário da Linha do Vouga, (ou não esteja ali um dos poucos locais onde há via dupla). Eirol, como ponto marcante, assumia um carácter que podemos classificar como quase simbólico. Marcava o fim da aventura anual e acendia os sentidos para a necessidade de começar a gerir uma mistura paradoxal de estados de espírito, de alguma tristeza por um lado - acabou-se mais uma e agora só para o ano -, e, por outro, da dose q.b. de alegria que se pode sempre associar ao regresso a paragens familiares. Para assinalar esse quasi-simbolismo, nada melhor do que, depois de escrever coisas no cartão InterRail como Brussel (Nord)- Luxembourg, via Arlon, ou Metz-Paris, via Chalôns-sur-Marne, 'fechar' com um Aveiro-Águeda, via Eirol.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Fumos, forints e coroas...



Um dos grandes problemas que os 'backpackers' fumadores que calcorreavam a Europa de comboio enfrentavam dizia respeito à aquisição da matéria que permitia dar resposta às exigências do vício. Já na altura, comprar um maço de tabaco na Suécia ou na Alemanha, para quem dispunha de um orçamento que mal dava para comer, era muito complicado. A solução, geralmente, passava pela compra de tabaco de enrolar (e.g. Samson) e pela capacidade de o poupar (a capacidade de 'cravar' também não era despicienda).
A excepção à regra 'Samson' ganhava substância nos países que se situavam para lá da Cortina de Ferro. Na Hungria, um maço de Románc custava 6 Forints (na altura, cerca de 7 escudos). O mesmo se pagava por um maço de Metropol Multifilter. O Sopianae Multifilter era um bocado mais carote (1o forints). Na Checoslováquia, 5 coroas checas eram suficientes para adquirir os king size Dalila (que continuam hoje a estar entre os mais vendidos na actual Eslováquia) ou os F20 Filter de Praga.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Bologna ancora...

Bologna, Agosto de 1980...

Cheguei a Bolonha pouco tempo depois do atentado terrorista que matou cerca de 90 pessoas e feriu mais de 200 na principal estação ferroviária daquela cidade italiana. A bomba, colocada numa concorrida sala de espera destruiu o edifício principal da estação e, ainda, uma composição que se encontrava no cais 1 (se bem me lembro vinha de Ancona e destinava-se a Chiasso). O comboio em que eu seguia, proveniente de Roma, parou muito antes do edifício da gare. Mandaram sair todos os passageiros, que, surpreendidos e apreensivos, desde logo saltaram para o meio das muitas linhas férreas. Dirigimo-nos a pé até às plataformas e, do lado esquerdo, lá estava o resultado devastador do atentado bombista. Apesar de todas as tentativas para esconder o efeito da explosão dos muitos passageiros que iam chegando à estação, os destroços e a inerente sensação de que algo muito grave se tinha passado naquele local estavam bem patentes.
À medida que as informações iam chegando, aumentava o misto de tristeza e revolta por um acto que ainda figura entre os mais devastadores atentados terroristas ocorridos no continente europeu. As opiniões que ouvia da boca dos cidadãos bolonheses sobre o porquê da violência convergiam para um ponto único: os terroristas quiseram "castigar" uma das cidades mais "vermelhas" de Itália.

O atentado foi atribuido a um grupo neo-fascista, o NAR- Nuclei Armati Rivoluzionari. Em 1987, mais de uma dezena de suspeitos de terem participado no atentado começaram a ser julgados. O processo, longo, com muitas sentenças, recursos e contra-recursos, acabou por atingir não só o grupo neo-fascista, como também altas esferas dos serviços secretos e a célebre loja maçónica P2. Uma grande confusão juridica que ainda dura...
Demorei pouco tempo em Bologna. Uns bons anos mais tarde, regressei à bela cidade da Emilia-Romagna e, na estação de caminho de ferro, lá continua o velho relógio, cujos ponteiros deixaram de se mover devido ao efeito da explosão, a marcar, desde Agosto de 1980, as 10.25.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Memorabilia I

7552$00! (ca. 37 €)

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Para lá da 'cortina de ferro'... um salto furtivo

Os cerca de 25 metros que separam as margens do rio Thaya, separavam também, antes dos acontecimentos que mudaram o panorama geopolítico da Europa no final da década de 80, o 'Oeste' do 'Leste'. As águas acastanhadas materializavam o metafórico e muito utilizado conceito de 'cortina de ferro'. Passar a 'cortina' para o 'lado de lá' fazia parte do imaginário dos viajantes que viviam do 'lado de cá'.
Tal experiência não era nova para mim. Nova Gorica, na antiga Jugoslávia, e Hegyeshalom, na Hungria, já me tinham permitido a entrada para explorar o tal 'lado de lá'. Posso até dizer que a essa entrada não faltaram peripécias, mal-entendidos e dificuldades (assunto a retomar...). Mas algo de novo ocorreu na pequena aldeia fronteiriça de Hardegg, no norte da Áustria (região de Niederösterreich), banhada pelas águas do Thaya (rio que do 'lado de lá', mais propriamente na hoje República Checa, toma o nome de Dyje). Mesmo à mão de semear, uma velha ponte (encerrada há muitos anos) ligava a Áustria à então Checoslováquia. A metade verde pertencia ao 'lado de cá', a metade castanha, ao 'lado de lá'. Curiosamente, apesar de não haver qualquer posto fronteiriço, não se vislumbravam grandes barreiras no tabuleiro, sendo no entanto visível algum aparato de vigilância a alguns metros da margem.
Não obstante Hegyeshalom ou Nova Gorica, o fascínio associado á passagem para o 'outro lado' mantinha-se bem vivo. Somado ao 'fascínio' da ilegalidade (hoje chamar-lhe-ia qualquer coisa parecida com estupidez), a coisa tornou-se irresistível. Ultrapassei a 'cortina de ferro' a pé, entrando furtivamente na Checoslováquia. Diga-se que a visita foi breve (uns segundos) e ínfima a distância percorrida (cerca de 3 metros!). Mas ninguém me tira o prazer de poder dizer que entrei como clandestino num país do então chamado Bloco Soviético!
Registe-se que, no ano seguinte, voltei à Checoslováquia. Legalmente, desta vez, como a imagem abaixo apresentada o comprova.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Impressões de um puto de 17 anos nos domínios do Sr. Ceausescu...

Entrei na Roménia pela primeira vez em 1978. Apanhei um comboio na principal estação da capital húngara, Budapest, (Keléti Pu, em que Pu é a abreviatura de Pályudvar, estação em húngaro). No posto de fronteira, localizado entre as pequenas cidades de Biharkeresztes, do lado húngaro, e de Oradea, do lado romeno, fui obrigado por um guarda fronteiriço a trocar marcos alemães por Lei (o plural de Leu, a moeda oficial da Roménia). Segui até Cluj-Napoca, onde troquei de comboio para fazer a viagem até Bistrita (deve ler-se Bistritsa), uma cidade situada nas imediações dos Cárpatos e 'encravada' num contexto marcadamente rural (como a imagem obtida através da objectiva da célebre Instamatic Pocket 200 bem o demonstra) (http://www.bn.ro/bol/index.htm).
Fazendo de Bistrita a base territorial, dei um salto a sítios espantosos, como por exemplo Vatra Dornei (http://www.vatra-dornei.ro/), uma estância de Inverno (primeira foto em baixo) bem perto da fronteira com a então União Soviética, hoje Ucrânia, ou Romuli, uma aldeia de lavradores absolutamente fabulosa (segunda foto em baixo).
Alguns detalhes sobre estes 'saltos' ficam para mais tarde. Saí da Roménia rural em direcção à capital, Bucareste, uma cidade relativamente pouco interessante (apesar da vibrante oferta cultural) e, uns dias mais tarde, à costa do Mar Negro (Eforie Sud, Constanta, etc.). Pormenores para mais tarde também. Agora, apenas algumas das impressões que marcaram mais um puto de 17 anos na terra do sr. Nicolae:

Para ficar mais de 12 horas na casa de amigos, era preciso pedir autorização à delegação do PC romeno. Estive mais de 72 horas na 'clandestinidade' em casa de amigos!

A qualidade de vida das populações na aldeia rural de Romuli impressionou-me pela positiva!

A caça era proibida (ou pelo menos 'desaconselhada') mas o Nicolae Ceaucescu tinha uma reserva de caça só para ele e amigos.

O culto da personalidade era enorme, como se podia constatar em sítios variados, da Praça 21 de Dezembro de 1969 ao Boulevardul Bratanu... em cada poste de iluminação um cartaz de Ceausescu...

A língua romena soava como uma mistura de português com búlgaro e turco, denotando as suas raízes latinas e a influência dos eslavos e otomanos. De "Casa de Cultura" ou "Nu calcati iarbă" (leia-se nu calcatsi iarbâ, não calcar a relva), a "Mulţumesc" (leia-se multsumesc, obrigado).

Da Roménia vinham instrumentos musicais com uma sonoridade absolutamente fabulosa, com particular destaque para o nai, o tambal ou o cimpoi (ver, por exemplo, www.eliznik.org.uk/RomaniaMusic/).

A quantidade de sais minerais das águas do Mar Negro era de tal ordem, que só com grande esforço alguém se conseguiria afogar... não derivasse o nome da coloração escura que esses sais minerais dão à água.

Um bilhete de cinema custava cerca de 10 tostões...
It voinţă a voi a continua curînd!

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Festividades...

O programa das festividades para assinalar os 30 anos decorridos sobre o primeiro Inter-Rail compreendeu uma viagem até terras turcas, desta feita sem mochila, de avião e a dormir em sítios mais confortáveis do que os bancos das estações de caminho-de-ferro.





segunda-feira, 16 de junho de 2008

Ilévu e Gafana...

"Para onde vamos agora?". Esta foi a pergunta que os elementos do grupo formado na sequência do episódio da igreja que serviu de hotel em Narvik (eu, a austríaca Gabrielle, os alemães Jochen e Dietmar e a italiana Mara) sentiram necessidade de responder logo após uma excursão frustrada ao Cabo Norte (frustrada porque depois de cinco horas de autocarro entre Narvik e Tromsø decidimos voltar para trás no dia seguinte - dormimos à porta da fantástica obra de arquitectura que é a 'Catedral do Árctico", ( http://www.destinasjontromso.no/). Encontrar uma resposta que merecesse unanimidade era difícil. Dificílimo até, se considerarmos que a única linha ferroviária com saída de Narvik nos levaria de novo até Kiruna na Suécia. Resultado: o grupo desfez-se. Os alemães escolheram a hipótese Kiruna; eu, a austríaca e a italiana 'desenhámos' alternativas: ou a boleia 'rodoviária' para sul, ou o Mar da Gronelândia. Prevaleceu a hipótese do 'caminho marítimo'. O trio, ao fim da tarde, dirigiu-se para o porto da cidade. O ferry 'oficial', para além de ser carote, só partia no dia seguinte. Usufruindo do elemento "facilitador" de comunicação que eram as enormes mochilas que transportávamos às costas ("Where are you from?", etc.), conseguimos apanhar boleia num barco de pescadores até ao arquipélago das Lofoten, mais especificamente para a cidade mais importante das ilhas, chamada Svolvær (uma nota para referir que actualmente, as barreiras de acessibilidade que faziam de Narvik, das Lofoten ou de Tromsø lugares remotos já não se põem; por exemplo, em 2007, foi inaugurada uma ligação rodoviária entre Narvik e Svolvær (LOFAST- Lofotens fastlandsforbindelse).
A viagem foi longa mas animada (o stock de cerveja disponível a bordo era simplesmente impressionante! O stock de simpatia dos pescadores não o era menos!). As magníficas paisagens, talvez o melhor sinónimo para o termo fjord, também ajudaram. Cinco horas depois de termos largado as amarras no porto de Narvik (a saída de Narvik foi documentada fotograficamente pela Pocket Instamatic 200- foto ao lado), e à luz do sol da meia-noite, avistámos finalmente Svolvær. A primeira impressão foi a de um pequeno aglomerado de casas de madeira pintadas de vermleho-ocre, com uma igreja (branca, diga-se) situada num pequeno promontório a dominar. Despedimo-nos dos pescadores e, dado o adiantado da hora, fomos procurar "albergue", o que, seguindo a tradição, significou iniciar uma busca por um sítio abrigado na natureza das ilhas. Descobrimos uma praia, onde assentámos arraiais (Que frio!...).
No dia seguinte, e depois de termos comprado alguns mantimentos (leia-se bolachas e leite, pois não havia dinheiro para mais), sentámo-nos num banco da praça central da cidade, um pequeno mas agradável espaço urbano. Enquanto saboreávamos o parco pequeno-almoço, fomos abordados por um habitante local, avançado na idade, como a longa barba branca deixava perceber. Num inglês perfeito, a pergunta do costume: "Hi, where are you from?". "Italia", respondeu a Mara; "Österreich", disse a Gabrielle; "Portugal", respondi eu...
- "Portugal?!? Ilévu? Gafana?".
- Yes. Portugal?!?
- "Ilévu? Gafana?", insistia o indígena. "Bacálau!".
Fez-se luz...
- Ílhavo e Gafanha!
Fui encontrar nas Lofoten um norueguês que tinha estado em Ílhavo e na Gafanha. Tinha sido pescador e esteve ligado à pesca do bacalhau.
Recentemente, vi uma reportagem da TV que falava de três portugueses, todos eles ilhavenses, que estão nas Lofoten a trabalhar. O bacalhau continua a ser o elo de ligação entre paragens tão distantes.
www.lofoten-startside.no/index.htm
www.svolvaer.net/

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Maledetti!!!

Cantar ao "som" de "retsina" (um vinho grego que, como o próprio nome indica, cheira e sabe a resina) era uma das ocupações favoritas do grupo de "hóspedes" - (este grupo merecerá outro grau de detalhe em futuros posts) - alojado no areal de uma das praias de Gávrion, uma pequena cidade situada na ilha de Andros (arquipélago das Cíclades). "On the radio", dos Roxy Music ("There's a band playing on the radio, with the rythm of rhyming guitars...") era do vasto leque de canções (do fado ao foclore, do rock ao jazz...) a mais cantada. A minha favorita era o "Gerontocrazia", a fantástica faixa do álbum Maledetti, dos italianos Area.

Eu imitava (ou, melhor dizendo, tentava imitar) o grande Demetrio Stratos na introdução vocal (acompanhada por uma coisa parecida com um instrumento basco chamado txalaparta ou um romeno chamado toaca; ver video em http://www.youtube.com/watch?v=T2RvkrZuE9I) que antecedia o poderoso "Col pottere delle cose, posso avere la tua vita controllata e si chiama libertá..."). Esta introdução era cantada em grego, pelo que o máximo que eu conseguia consistia numa reles aproximação fonética: "Anoreksiá, ti megalo fere remuto", por exemplo. Porém, o poder da música estava bem patente! De facto, numa das sessões de canto, duas idosas locais que passavam no caminho que se abria ao longo da praia, mal ouviram a tal "aproximação fonética" começaram a esbracejar e a vociferar como se fosse o fim do mundo. Não se percebia nada do que diziam... era, no entanto, fácil concluir que as duas mulheres estavam furiosas.

Só mais tarde descobri porquê de tal reacção. A inocente aproximação fonética era tão pouco eficaz que algumas das palavras de Stratos se transformaram em palavrões gregos da "pesada"... Aqui fica a tradução italiana do grego original (facilmente se constata que dela não consta qualquer vernáculo):

"Sonno, tu che porti via i bambini, portami via anche questo; te l'ho consegnato piccolo piccolo riportamelo grande grande come una montagna slanciato come un cipresso che domini da est a ovest".

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Polska?

Os quase 1000 km entre Helsínquia e Rovaniemi demoraram quatro dias a ser percorridos. Não porque houvesse escassez de ligações (os seis comboios que diariamente ligavam as duas cidades em 1979 continuam hoje a figurar nos "aikataulut"* da VR- Valtionrautatiet, a CP finlandesa)..., mas sim porque pelo caminho aconteceram paragens "turísticas" em Rihimäki, Hämeenlinna, Tampere, Vaasa, Kokkola e Oulu. A estação de caminho de ferro de Tampere serviu de hotel na primeira noite, função que, nas noites seguintes, caberia aos parques Hoviokeudenpuisto em Vaasa e Myllytulli em Oulu. Percorridos os 230 km entre Oulu e Rovaniemi, eis-me em Rovaniemi, célebre por ser a "cidade das oito estações" (1- O sol da meia noite; 2- A estação das colheitas; 3- O Outono colorido; 4- O primeiro nevão; 5- O Natal; 6- O Inverno gelado; 7- A Primavera com neve; 8- A estação do degelo), por ter tido o espírito empreendedor (utilizando uma linguagem muito em voga actualmente) necessário para convencer meio mundo que é o local onde vivem o Pai Natal e respectivas renas (ver http://www.santaclaus.fi/), e por ali perto passar o Círculo Polar Árctico (bem perto da aldeia do Pai Natal há um sítio onde passam diplomas a quem passa o Napapiiri a pé: "Hereby we certify that fulano de tal has crossed the Arctic Circle - Napapiiri- on the... ").
Depois dos "hoteis" das noites anteriores, decidi procurar um camping. Fui ao posto de turismo à saída da estação de caminho de ferro. "Hi! Welcome to Rovaniemi!". A primeira coisa que me perguntaram foi de que país vinha. Portugal, respondi. De forma quase automática, a menina do turismo assinalou numa folha A4 com uma lista enorme de países o nome "Polska" (Polónia). Polska? Não! É Portugal!. "What?". A menina não sabia que existia um "cantinho à beira-mar plantado" chamado Portugal. Resultado: a minha visita a Rovaniemi, em termos da estatística oficial da cidade, ficou contabilizada na rubrica "Outros"!
Já agora, junto uma foto (grande Instamatic Pocket 200!) tirada no Sinettäjärvi, a norte de Rovaniemi.
*Aikataulut = horários

segunda-feira, 2 de junho de 2008

O sol da meia noite e a Kodak Instamatic Pocket 200

Esta fotografia foi tirada em Rovaniemi, a capital da Lapónia finlandesa, cerca da meia-noite. Mais do que a estranheza sentida por um miúdo do sul da Europa, a admiração pela capacidade de "capturar" o ambiente do "estate" nórdico (perdoem-me a imodéstia...), de todo inesperada devido ao material fotográfico utilizado: a rudimentar, simples e nem sempre eficaz Kodak Instamatic Pocket 200!

Ver pormenores em

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Zeca Afonso, Garibaldi...

Ao dobrar de uma esquina, bem no centro de Pisa e perto da praça que homenageia o "Herói dos Dois Mundos", como Giuseppe Garibaldi é frequentemente denominado (dos dois Mundos devido à sua acção em Itália e na América do Sul, onde, por exemplo, comandou o movimento que conduziria à independência do Uruguai). Um concerto de um outro género de "herói" (duvido que o Zeca gostasse desta etiqueta), que tive o gosto de conhecer e privar uns anos mais tarde em Lisboa.
Apesar da entrada livre e do gosto pela música de José Afonso (ed il suo gruppo) não fui à Marina de Pisa ver o concerto... cheguei à cidade italiana no dia seguinte...

terça-feira, 27 de maio de 2008

Lá para os lados do Pólo Norte (I)...

Cheguei a Narvik, pequena cidade do norte da Noruega, famosa pela grande batalha (durou um mês) naval e terrestre que ali se travou em 1940 entre ingleses e alemães, cerca das 23 horas. Apesar da claridade conferida pelo sol da meia-noite, o frio da não-noite nórdica aconselhava a procura de um abrigo coberto para estender o saco-cama e passar pelas brasas. Porque mais à mão, e após um breve diálogo com a Gabrielle, uma austríaca que tinha conhecido uns dias antes na Lapónia finlandesa e que me acompanharia até às terras da Noruega, o (pequeno) edifício da estação de caminho de ferro foi o local escolhido.
Adormeci, na “ressaca” da longa e lenta viagem que me tinha trazido da cidade de Kiruna (“perdiz branca” na língua do povo Sami, ver http://www.kiruna.se/ ), na Suécia, até Narvik. Não estranhei (tal o hábito...) que dois polícias, delicadamente diga-se, acordassem quem dormia no chão da “togstasjonen” (uns seis viajantes) e os expulsassem do recinto, justificando-se com o encerramento da estação até às 6 da manhã. Saímos ordeiramente (outra coisa não seria esperar tal a”macieza” dos homens da “Politi”) e, enquanto a meia dúzia de “desalojados” procurava um qualquer outro local para pernoitar, um homem de pequena estatura, nos seus 60 e tal anos, vestido de preto, meteu conversa com o grupo. O seu inglês não era o mais perfeito. Eram quase duas da manhã. A nossa reacção não foi a melhor. O que é que o tipo quer? Não tardámos a descobrir (e a arrependermo-nos da fria recepção). Era um pastor luterano que muito simplesmente nos convidava a passar a noite no interior da sua pequena igreja, um edifício antigo, construido em madeira, situado próximo da estação. Aceitámos de bom grado. A convite do pastor, entrámos na nave. As poucas e pouco intensas fontes de luz que (mal) iluminavam o local e o mantinham numa “temperatura de cor” cheia de dramatismo nórdico, permitiram, no entanto, descortinar uma mistura de mochilas e de corpos espalhada pela dezena de bancos corridos que preenchiam quase por completo o interior da igreja. A lotação do “InterRail Lodge” em que a igreja se transformara ficou esgotada com a chegada dos seis hóspedes tardios.
Dormi bem… até que acordei ao som de uma voz feminina (não sei quem era a senhora… muito provavelmente a esposa do pastor) que, apesar das palavras em norueguês, conseguiu levar alemães, italianos, austríacos, dinamarqueses, americanos, ingleses (e um português…) para um anexo onde nos esperavam travessas cheias de croissants, compotas, café, leite e sumos! Para quem não comia decentemente há semanas, foi o paraíso!Depois da reconfortante refeição matinal, começou a exploração de Narvik (http://www.narvikinfo.no/ ). Apesar da beleza da cidade e, particularmente, da sua envolvente natural, nada se tornaria tão marcante como a simpatia dos dois noruegueses.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

... (a)cronológica

Prestada que foi a devida homenagem ao objecto vermelho, de marca Karrimor (passe a publicidade), que transportou a minha tenda da ICA (a grande fábrica de tendas de campismo que existia em Águeda), uma tenda feita de um material que quando apanhava chuva o seu peso subia para os 25-30 kg, o saco-cama, a faca de mato, umas latas de atum e algumas (muito poucas) peças de roupa, um post prévio para salientar a natureza (a)cronológica dos escritos futuros, i.e., a ausência de uma ordem configuradora de qualquer sequência temporal...

domingo, 25 de maio de 2008

sábado, 24 de maio de 2008

Sete contos e quinhentos...

No próximo mês de Agosto faz 30 (trinta!) anos que comprei o meu primeiro passe Inter-Rail! Tinha 17 anos e, acompanhado por uma tia minha, depois de ter atravessado as obrigatórias Espanha e França, 'cheirei' a Suiça, a Alemanha, a Áustria, a Hungria, a Roménia e, no regresso, a ex-Jugoslávia, a Itália, e Suiça outra vez e por aí adiante... tudo isto por sete mil e quinhentos escudos! Repeti a experiência (já sem a minha tia Maria) em 1979, 1980 e 1981! Inesquecível! Mais do que simples turismo, lições de vida, muitas histórias para contar!
Trinta anos depois, quando a Ryanair nos leva a Londres ou a Milão por 5 €, quando as grandes empresas que gerem os transportes ferroviários na Europa obrigam a uma escolha antecipada do trajecto a percorrer com o passe InterRail (acabaram com o gozo de chegar a Hendaye e enfrentar a escolha entre o cais 1 e o cais 3, para Paris e para Basel, respectivamente), quando o 'paradigma' de férias se alterou substancialmente... quando me lembro que andei oito dias por várias cidades da Europa com uma moeda de vinte e cinco tostões no bolso... chega este blogue, um espaço que não pretende ser mais do que 1. uma comemoração, 2. uma oportunidade para partilhar experiências e 3. uma forma de dar corpo, ainda que 'virtual', a uma certa nostalgia que certamente invade todos aqueles que, como eu, tiveram a felicidade de mostrar ao revisor um caderninho onde se podia ler Paris-Águeda, via Eirol!