segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Outros continentes, outros comboios...

Estive em trabalho no coração do Silicon Valley, mais propriamente na instituição académica que constitui um dos seus mais importantes pilares, a Universidade de Stanford, em Palo Alto. Aproveitei para passar um fim de semana em San Francisco e meio dia em Philadelphia, onde fiz escala. Uma forma 'inovadora' e , por isso, fora do comum, de assinalar os 33 anos decorridos desde o meu primeiro Interrail. Houve comboios envolvidos? Sim... o Caltrain para fazer os trajectos San Francisco (aeroporto)-Palo Alto-San Francisco (centro) e o da Philadelphia Airport Regional Rail Line. Bom (e relativamente barato) serviço em ambos os casos... sem qualquer luxo, comboios dos anos 80 prestam um serviço público de qualidade. Mais, num país que é utilizado como fonte de inspiração de políticas que têm contribuido em muito para os atentados à segurança e à dignidade do trabalho, o cenário que constatei no comboio de Filadélfia não pode deixar de ser considerado estranho: cada carruagem tem dois funcionários, que se posicionam estrategicamente em cada um dos topos. Função? 'Gerir' as entradas e saídas (levei um raspanete por me ter levantado do banco antes da composição se imobilizar completamente) e anunciar atempadamente a próxima estação.


terça-feira, 20 de setembro de 2011

Descubra as diferenças...

Cheguei ontem de Viena. Um par de dias de trabalho na Universidade local e umas horas livres para dar uma volta pela bela e grandiosa capital austríaca. Nada de novo quanto a beleza e grandiosidade, já constatadas nas várias vezes que visitei a cidade, a primeira das quais em 1978, quando a caminho da Roménia.



Porém...



A estátua de Johann Strauss, o célebre músico vienense não estava no seu lugar habitual, o Stadtpark, em pleno centro de Viena (este parque é uma espécie de homenagem às artes e ao génio criativo de compositores como Franz Lehar, Franz Schubert ou Anton Bruckner ou artistas plásticos como Hans Makart). A preocupação inicial que derivava do surpreendente desaparecimento desvaneceu-se logo após a leitura de uma nota (escrita em várias línguas... que não o português) deixada por Strauss na vedação que protegia o monumento: "My dear: I need some rest. But please don't worry. I'll be back soon! I promise. Johann". O regresso de Johann Strauss ao Stadtpark está marcado para o dia 23 de Setembro. A 'normalidade' de 1981 (em baixo) será retomada...

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Expresso da Meia Noite...

Lembram-se do 'Expresso da Meia Noite'? Título de um filme de 1978 que, pela mão do realizador Alan Parker, deu a conhecer ao mundo a história verídica de Billy Hayes, um americano que, em 1970, foi preso na Turquia quando tentava deixar aquele País com cerca de 2kg de haxixe colados ao seu corpo. Condenado a 30 anos de prisão, Hayes fugiu em 1975, depois de matar um guarda e vestir o seu uniforme (segundo o filme), ou a nado num rio (segundo o próprio). Em comum ao filme e ao relato do próprio Hayes, os horrores vividos na prisão de Sagmalcilar durante cinco anos.
"E se fosse na Turquia?". Influenciado pelo filme, que tinha visto no Teatro Gil Vicente em Coimbra uns meses antes, fiz esta pergunta a mim próprio várias vezes durante o trajecto que percorri, sob prisão, e por isso acompanhado por três agentes, entre a principal gare ferroviária do Luxemburgo e o 'Commissariat de Proximité Gare-Hollerich', a esquadra de polícia mais próxima.

Antes que pensem que, à semelhança de Hayes, estava a tentar contrabandear qualquer substância ilícita, deixem-me dizer que os meus 'crimes' foram muito simplesmente i) estar a dormir no interior da estação com esta já fechada ao público, ii) ter estendido o meu saco-cama a poucos metros de um 'junkie' francês, iii) ter passado por Amesterdão antes de chegar ao Luxemburgo e iv) não ter dinheiro 'para sobreviver', utilizando as palavras de um dos três agentes da polícia (já nos últimos dias desta edição interrailiana, o 'erário' limitava-se a três moedas de 2$50...).

Chegado à esquadra, fui enfiado com a minha Karrimor vermelha e o tal 'junkie' francês numa espécie de gaiola onde já se encontravam uma senhora completamente alcoolizada e um indivíduo com bom aspecto que, como descobri mais tarde, foi detido por roubar um automóvel. Umas boas horas depois, fui conduzido a uma pequena sala e interrogado por um agente que não demorou muito tempo a perceber que, na ausência de legislação que tornasse ilegal o 'ar', digamos, 'desleixado', de quem anda há umas semanas a dormir em estações e em escadas de serviço de hotéis de luxo, não havia outros motivos para me reter na esquadra. "Podes ir embora!", disse-me, peremptório. Já esquecido da questão 'E se fosse na Turquia?', uma outra assolou de imediato a minha mente: 'Ir embora para onde?'. Eram 4 da manhã. Entre dormir num qualquer recanto ajardinado da cidade ou à porta da estação onde fora preso, preferia ficar na esquadra. Sensível aos argumentos que apresentei, o polícia satisfez a minha pretensão e autorizou a minha permanência na 'prisão'. Dormi três horas num cadeirão que, quando comparado com o frio e duro cimento das estações de caminho de ferro, poderia ser considerado como a melhor cama do mundo. Mais, os mesmos polícias que me prenderam trouxeram-me uma chávena de café e um prato com dois croissants! Ouro sobre azul...