terça-feira, 23 de setembro de 2008

Memorabilia I

7552$00! (ca. 37 €)

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Para lá da 'cortina de ferro'... um salto furtivo

Os cerca de 25 metros que separam as margens do rio Thaya, separavam também, antes dos acontecimentos que mudaram o panorama geopolítico da Europa no final da década de 80, o 'Oeste' do 'Leste'. As águas acastanhadas materializavam o metafórico e muito utilizado conceito de 'cortina de ferro'. Passar a 'cortina' para o 'lado de lá' fazia parte do imaginário dos viajantes que viviam do 'lado de cá'.
Tal experiência não era nova para mim. Nova Gorica, na antiga Jugoslávia, e Hegyeshalom, na Hungria, já me tinham permitido a entrada para explorar o tal 'lado de lá'. Posso até dizer que a essa entrada não faltaram peripécias, mal-entendidos e dificuldades (assunto a retomar...). Mas algo de novo ocorreu na pequena aldeia fronteiriça de Hardegg, no norte da Áustria (região de Niederösterreich), banhada pelas águas do Thaya (rio que do 'lado de lá', mais propriamente na hoje República Checa, toma o nome de Dyje). Mesmo à mão de semear, uma velha ponte (encerrada há muitos anos) ligava a Áustria à então Checoslováquia. A metade verde pertencia ao 'lado de cá', a metade castanha, ao 'lado de lá'. Curiosamente, apesar de não haver qualquer posto fronteiriço, não se vislumbravam grandes barreiras no tabuleiro, sendo no entanto visível algum aparato de vigilância a alguns metros da margem.
Não obstante Hegyeshalom ou Nova Gorica, o fascínio associado á passagem para o 'outro lado' mantinha-se bem vivo. Somado ao 'fascínio' da ilegalidade (hoje chamar-lhe-ia qualquer coisa parecida com estupidez), a coisa tornou-se irresistível. Ultrapassei a 'cortina de ferro' a pé, entrando furtivamente na Checoslováquia. Diga-se que a visita foi breve (uns segundos) e ínfima a distância percorrida (cerca de 3 metros!). Mas ninguém me tira o prazer de poder dizer que entrei como clandestino num país do então chamado Bloco Soviético!
Registe-se que, no ano seguinte, voltei à Checoslováquia. Legalmente, desta vez, como a imagem abaixo apresentada o comprova.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Impressões de um puto de 17 anos nos domínios do Sr. Ceausescu...

Entrei na Roménia pela primeira vez em 1978. Apanhei um comboio na principal estação da capital húngara, Budapest, (Keléti Pu, em que Pu é a abreviatura de Pályudvar, estação em húngaro). No posto de fronteira, localizado entre as pequenas cidades de Biharkeresztes, do lado húngaro, e de Oradea, do lado romeno, fui obrigado por um guarda fronteiriço a trocar marcos alemães por Lei (o plural de Leu, a moeda oficial da Roménia). Segui até Cluj-Napoca, onde troquei de comboio para fazer a viagem até Bistrita (deve ler-se Bistritsa), uma cidade situada nas imediações dos Cárpatos e 'encravada' num contexto marcadamente rural (como a imagem obtida através da objectiva da célebre Instamatic Pocket 200 bem o demonstra) (http://www.bn.ro/bol/index.htm).
Fazendo de Bistrita a base territorial, dei um salto a sítios espantosos, como por exemplo Vatra Dornei (http://www.vatra-dornei.ro/), uma estância de Inverno (primeira foto em baixo) bem perto da fronteira com a então União Soviética, hoje Ucrânia, ou Romuli, uma aldeia de lavradores absolutamente fabulosa (segunda foto em baixo).
Alguns detalhes sobre estes 'saltos' ficam para mais tarde. Saí da Roménia rural em direcção à capital, Bucareste, uma cidade relativamente pouco interessante (apesar da vibrante oferta cultural) e, uns dias mais tarde, à costa do Mar Negro (Eforie Sud, Constanta, etc.). Pormenores para mais tarde também. Agora, apenas algumas das impressões que marcaram mais um puto de 17 anos na terra do sr. Nicolae:

Para ficar mais de 12 horas na casa de amigos, era preciso pedir autorização à delegação do PC romeno. Estive mais de 72 horas na 'clandestinidade' em casa de amigos!

A qualidade de vida das populações na aldeia rural de Romuli impressionou-me pela positiva!

A caça era proibida (ou pelo menos 'desaconselhada') mas o Nicolae Ceaucescu tinha uma reserva de caça só para ele e amigos.

O culto da personalidade era enorme, como se podia constatar em sítios variados, da Praça 21 de Dezembro de 1969 ao Boulevardul Bratanu... em cada poste de iluminação um cartaz de Ceausescu...

A língua romena soava como uma mistura de português com búlgaro e turco, denotando as suas raízes latinas e a influência dos eslavos e otomanos. De "Casa de Cultura" ou "Nu calcati iarbă" (leia-se nu calcatsi iarbâ, não calcar a relva), a "Mulţumesc" (leia-se multsumesc, obrigado).

Da Roménia vinham instrumentos musicais com uma sonoridade absolutamente fabulosa, com particular destaque para o nai, o tambal ou o cimpoi (ver, por exemplo, www.eliznik.org.uk/RomaniaMusic/).

A quantidade de sais minerais das águas do Mar Negro era de tal ordem, que só com grande esforço alguém se conseguiria afogar... não derivasse o nome da coloração escura que esses sais minerais dão à água.

Um bilhete de cinema custava cerca de 10 tostões...
It voinţă a voi a continua curînd!