

A estátua de Johann Strauss, o célebre músico vienense não estava no seu lugar habitual, o Stadtpark, em pleno centro de Viena (este parque é uma espécie de homenagem às artes e ao génio criativo de compositores como Franz Lehar, Franz Schubert ou Anton Bruckner ou artistas plásticos como Hans Makart). A preocupação inicial que derivava do surpreendente desaparecimento desvaneceu-se logo após a leitura de uma nota (escrita em várias línguas... que não o português) deixada por Strauss na vedação que protegia o monumento: "My dear: I need some rest. But please don't worry. I'll be back soon! I promise. Johann". O regresso de Johann Strauss ao Stadtpark está marcado para o dia 23 de Setembro. A 'normalidade' de 1981 (em baixo) será retomada...
Antes que pensem que, à semelhança de Hayes, estava a tentar contrabandear qualquer substância ilícita, deixem-me dizer que os meus 'crimes' foram muito simplesmente i) estar a dormir no interior da estação com esta já fechada ao público, ii) ter estendido o meu saco-cama a poucos metros de um 'junkie' francês, iii) ter passado por Amesterdão antes de chegar ao Luxemburgo e iv) não ter dinheiro 'para sobreviver', utilizando as palavras de um dos três agentes da polícia (já nos últimos dias desta edição interrailiana, o 'erário' limitava-se a três moedas de 2$50...).
Chegado à esquadra, fui enfiado com a minha Karrimor vermelha e o tal 'junkie' francês numa espécie de gaiola onde já se encontravam uma senhora completamente alcoolizada e um indivíduo com bom aspecto que, como descobri mais tarde, foi detido por roubar um automóvel. Umas boas horas depois, fui conduzido a uma pequena sala e interrogado por um agente que não demorou muito tempo a perceber que, na ausência de legislação que tornasse ilegal o 'ar', digamos, 'desleixado', de quem anda há umas semanas a dormir em estações e em escadas de serviço de hotéis de luxo, não havia outros motivos para me reter na esquadra. "Podes ir embora!", disse-me, peremptório. Já esquecido da questão 'E se fosse na Turquia?', uma outra assolou de imediato a minha mente: 'Ir embora para onde?'. Eram 4 da manhã. Entre dormir num qualquer recanto ajardinado da cidade ou à porta da estação onde fora preso, preferia ficar na esquadra. Sensível aos argumentos que apresentei, o polícia satisfez a minha pretensão e autorizou a minha permanência na 'prisão'. Dormi três horas num cadeirão que, quando comparado com o frio e duro cimento das estações de caminho de ferro, poderia ser considerado como a melhor cama do mundo. Mais, os mesmos polícias que me prenderam trouxeram-me uma chávena de café e um prato com dois croissants! Ouro sobre azul...