Cheguei a Bolonha pouco tempo depois do atentado terrorista que matou cerca de 90 pessoas e feriu mais de 200 na principal estação ferroviária daquela cidade italiana. A bomba, colocada numa concorrida sala de espera destruiu o edifício principal da estação e, ainda, uma composição que se encontrava no cais 1 (se bem me lembro vinha de Ancona e destinava-se a Chiasso). O comboio em que eu seguia, proveniente de Roma, parou muito antes do edifício da gare. Mandaram sair todos os passageiros, que, surpreendidos e apreensivos, desde logo saltaram para o meio das muitas linhas férreas. Dirigimo-nos a pé até às plataformas e, do lado esquerdo, lá estava o resultado devastador do atentado bombista. Apesar de todas as tentativas para esconder o efeito da explosão dos muitos passageiros que iam chegando à estação, os destroços e a inerente sensação de que algo muito grave se tinha passado naquele local estavam bem patentes.
À medida que as informações iam chegando, aumentava o misto de tristeza e revolta por um acto que ainda figura entre os mais devastadores atentados terroristas ocorridos no continente europeu. As opiniões que ouvia da boca dos cidadãos bolonheses sobre o porquê da violência convergiam para um ponto único: os terroristas quiseram "castigar" uma das cidades mais "vermelhas" de Itália.
O atentado foi atribuido a um grupo neo-fascista, o NAR- Nuclei Armati Rivoluzionari. Em 1987, mais de uma dezena de suspeitos de terem participado no atentado começaram a ser julgados. O processo, longo, com muitas sentenças, recursos e contra-recursos, acabou por atingir não só o grupo neo-fascista, como também altas esferas dos serviços secretos e a célebre loja maçónica P2. Uma grande confusão juridica que ainda dura...
Demorei pouco tempo em Bologna. Uns bons anos mais tarde, regressei à bela cidade da Emilia-Romagna e, na estação de caminho de ferro, lá continua o velho relógio, cujos ponteiros deixaram de se mover devido ao efeito da explosão, a marcar, desde Agosto de 1980, as 10.25.
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