"Para onde vamos agora?". Esta foi a pergunta que os elementos do grupo formado na sequência do episódio da igreja que serviu de hotel em Narvik (eu, a austríaca Gabrielle, os alemães Jochen e Dietmar e a italiana Mara) sentiram necessidade de responder logo após uma excursão frustrada ao Cabo Norte (frustrada porque depois de cinco horas de autocarro entre Narvik e Tromsø decidimos voltar para trás no dia seguinte - dormimos à porta da fantástica obra de arquitectura que é a 'Catedral do Árctico", ( http://www.destinasjontromso.no/). Encontrar uma resposta que merecesse unanimidade era difícil. Dificílimo até, se considerarmos que a única linha ferroviária com saída de Narvik nos levaria de novo até Kiruna na Suécia. Resultado: o grupo desfez-se. Os alemães escolheram a hipótese Kiruna; eu, a austríaca e a italiana 'desenhámos' alternativas: ou a boleia 'rodoviária' para sul, ou o Mar da Gronelândia. Prevaleceu a hipótese do 'caminho marítimo'. O trio, ao fim da tarde, dirigiu-se para o porto da cidade. O ferry 'oficial', para além de ser carote, só partia no dia seguinte. Usufruindo do elemento "facilitador" de comunicação que eram as enormes mochilas que transportávamos às costas ("Where are you from?", etc.), conseguimos apanhar boleia num barco de pescadores até ao arquipélago das Lofoten, mais especificamente para a cidade mais importante das ilhas, chamada Svolvær (uma nota para referir que actualmente, as barreiras de acessibilidade que faziam de Narvik, das Lofoten ou de Tromsø lugares remotos já não se põem; por exemplo, em 2007, foi inaugurada uma ligação rodoviária entre Narvik e Svolvær (LOFAST- Lofotens fastlandsforbindelse).
A viagem foi longa mas animada (o stock de cerveja disponível a bordo era simplesmente impressionante! O stock de simpatia dos pescadores não o era menos!). As magníficas paisagens, talvez o melhor sinónimo para o termo fjord, também ajudaram. Cinco horas depois de termos largado as amarras no porto de Narvik (a saída de Narvik foi documentada fotograficamente pela Pocket Instamatic 200- foto ao lado), e à luz do sol da meia-noite, avistámos finalmente Svolvær. A primeira impressão foi a de um pequeno aglomerado de casas de madeira pintadas de vermleho-ocre, com uma igreja (branca, diga-se) situada num pequeno promontório a dominar. Despedimo-nos dos pescadores e, dado o adiantado da hora, fomos procurar "albergue", o que, seguindo a tradição, significou iniciar uma busca por um sítio abrigado na natureza das ilhas. Descobrimos uma praia, onde assentámos arraiais (Que frio!...).
No dia seguinte, e depois de termos comprado alguns mantimentos (leia-se bolachas e leite, pois não havia dinheiro para mais), sentámo-nos num banco da praça central da cidade, um pequeno mas agradável espaço urbano. Enquanto saboreávamos o parco pequeno-almoço, fomos abordados por um habitante local, avançado na idade, como a longa barba branca deixava perceber. Num inglês perfeito, a pergunta do costume: "Hi, where are you from?". "Italia", respondeu a Mara; "Österreich", disse a Gabrielle; "Portugal", respondi eu...
- "Portugal?!? Ilévu? Gafana?".
- Yes. Portugal?!?
- "Ilévu? Gafana?", insistia o indígena. "Bacálau!".
Fez-se luz...
- Ílhavo e Gafanha!
Fui encontrar nas Lofoten um norueguês que tinha estado em Ílhavo e na Gafanha. Tinha sido pescador e esteve ligado à pesca do bacalhau.
Recentemente, vi uma reportagem da TV que falava de três portugueses, todos eles ilhavenses, que estão nas Lofoten a trabalhar. O bacalhau continua a ser o elo de ligação entre paragens tão distantes.
www.lofoten-startside.no/index.htmwww.svolvaer.net/
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