segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Impressões de um puto de 17 anos nos domínios do Sr. Ceausescu...

Entrei na Roménia pela primeira vez em 1978. Apanhei um comboio na principal estação da capital húngara, Budapest, (Keléti Pu, em que Pu é a abreviatura de Pályudvar, estação em húngaro). No posto de fronteira, localizado entre as pequenas cidades de Biharkeresztes, do lado húngaro, e de Oradea, do lado romeno, fui obrigado por um guarda fronteiriço a trocar marcos alemães por Lei (o plural de Leu, a moeda oficial da Roménia). Segui até Cluj-Napoca, onde troquei de comboio para fazer a viagem até Bistrita (deve ler-se Bistritsa), uma cidade situada nas imediações dos Cárpatos e 'encravada' num contexto marcadamente rural (como a imagem obtida através da objectiva da célebre Instamatic Pocket 200 bem o demonstra) (http://www.bn.ro/bol/index.htm).
Fazendo de Bistrita a base territorial, dei um salto a sítios espantosos, como por exemplo Vatra Dornei (http://www.vatra-dornei.ro/), uma estância de Inverno (primeira foto em baixo) bem perto da fronteira com a então União Soviética, hoje Ucrânia, ou Romuli, uma aldeia de lavradores absolutamente fabulosa (segunda foto em baixo).
Alguns detalhes sobre estes 'saltos' ficam para mais tarde. Saí da Roménia rural em direcção à capital, Bucareste, uma cidade relativamente pouco interessante (apesar da vibrante oferta cultural) e, uns dias mais tarde, à costa do Mar Negro (Eforie Sud, Constanta, etc.). Pormenores para mais tarde também. Agora, apenas algumas das impressões que marcaram mais um puto de 17 anos na terra do sr. Nicolae:

Para ficar mais de 12 horas na casa de amigos, era preciso pedir autorização à delegação do PC romeno. Estive mais de 72 horas na 'clandestinidade' em casa de amigos!

A qualidade de vida das populações na aldeia rural de Romuli impressionou-me pela positiva!

A caça era proibida (ou pelo menos 'desaconselhada') mas o Nicolae Ceaucescu tinha uma reserva de caça só para ele e amigos.

O culto da personalidade era enorme, como se podia constatar em sítios variados, da Praça 21 de Dezembro de 1969 ao Boulevardul Bratanu... em cada poste de iluminação um cartaz de Ceausescu...

A língua romena soava como uma mistura de português com búlgaro e turco, denotando as suas raízes latinas e a influência dos eslavos e otomanos. De "Casa de Cultura" ou "Nu calcati iarbă" (leia-se nu calcatsi iarbâ, não calcar a relva), a "Mulţumesc" (leia-se multsumesc, obrigado).

Da Roménia vinham instrumentos musicais com uma sonoridade absolutamente fabulosa, com particular destaque para o nai, o tambal ou o cimpoi (ver, por exemplo, www.eliznik.org.uk/RomaniaMusic/).

A quantidade de sais minerais das águas do Mar Negro era de tal ordem, que só com grande esforço alguém se conseguiria afogar... não derivasse o nome da coloração escura que esses sais minerais dão à água.

Um bilhete de cinema custava cerca de 10 tostões...
It voinţă a voi a continua curînd!

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