Depois de uns dias passados no apartamento de Vantaa, (uma cidade 'satélite' onde fica o aeroporto internacional), pertença de umas amigas recentes (companheiras de viagem desde a Dinamarca até à Finlândia), estabeleci a minha base da capital finlandesa no Rastila Camping, um parque de campismo sito em Vuosaari, a cerca de 12 km do centro da cidade. Nada de especial haveria a registar (exceptuando talvez a sauna unisexo e a magnífica praia onde era moda aguentar o frio das águas do Báltico em pelota...), não fosse o conhecimento travado com um grupo de cinco italianos da Emília-Romagna que iniciavam uma viagem de automóvel por terras finlandesas.
Foi desses sete italianos que partiu o convite para os acompanhar numa incursão nocturna ao centro de Helsínquia. Estacionado o FIAT numa das transversais da central Pohjoisesplanade (coisa que nos dias que correm era impossível, diga-se), calcorreámos cerca de 250 metros e chegámos à avenida que hoje sei chamar-se Mannerheimintie. Foi ali que percebi que para os meus novos amigos uma incursão nocturna significava ir a uma discoteca. Não me lembro do nome da coisa... lembro-me sim da cena passada à entrada. O porteiro, fardado a rigor, incluindo boné e 'smoking' cinzentos (estamos nos anos 70...), olhava persistentemente para os pés de todos aqueles que pretendiam entrar. Chegou a minha vez e ouvi um estridente "maahanpääsyn vain kengät", o que traduzido dá qualquer coisa como "só se pode entrar com sapatos". De facto, as minhas sapatilhas (apesar de serem Adidas) não cumpriam tal requisito...
Quando já me preparava para ficar à porta e me despedir dos amigos italianos para evitar estragar-lhes a noite (todos eles tinham sapatos), eis que um deles bate violentamente com a mão na própria testa e, depois de um "Porca miseria!" diz que sabe como resolver o problema. Voltámos ao FIAT. Na mala, pares de sapatos para todos os gostos... escolhi o par com o número maior. Era um 41! Para quem calça 43, foi com algum desconforto que fiz o trajecto de volta até à discoteca. Desta feita, o criterioso porteiro não arranjou motivos para me vedar a entrada. Saímos da discoteca para lá das 5 da manhã. Dei cabo dos pés. Recompus-me à tarde, depois de uma sessão de "savusauna" no Rastila Camping!
Já agora, paguei 10 markka finlandesas (o equivalente a 2 euros). Descobri também que o papelinho que dava acesso à discoteca, mais do que um mero bilhete, era uma espécie de selo fiscal... com a minha dor nos pés, contribui com 35% de 10 MK para a manutenção do 'welfare state' finlandês.
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