Com o 30º dia do mês de Agosto, chegava ao fim a validade do InterRail e percorriam-se os últimos de muitos e muitos quilómetros. Da Gare parisiense de Austerlitz partia o Sud-Express, uma composição ferroviária de passageiros que, quer quando se dirigia para as terras do sul europeu, quer quando deixava essas bandas para subir de novo até ao centro do continente, apresentava como característica diferenciadora um intenso cheiro a chouriças, chispe e produtos afins e, ainda, um número elevadíssimo de garrafões de cinco litros (digamos, uma média de 3 garrafões = 15 litros por compartimento). A este factor diferenciador não seria certamente alheia a 'portuguesidade' que predominava entre os passageiros que enchiam as composições da SNCF.
Quando as luzes de Paris começavam a esmorecer e a ser deixadas para trás, faltavam ainda mais de 24 horas para chegar a casa.
Hendaye, Irún, Fuentes d'Oñoro, Vilar Formoso constituiam pontos marcantes desta viagem percebida como quase interminável, com todos os controlos, alguns deles exasperantes (um polícia espanhol, por exemplo, demorava muito tempo a entender que a faca de mato que eu tinha na mochila servia apenas para cortar queijo e abrir latas de atum). A estes pontos marcantes, juntava-se um outro: a pequena aldeia de Eirol. Apeado do que restava do Sud-Express (cortado a metade na Pampilhosa, 1/2 para Lisboa, 1/2 para o Porto) em Aveiro, o 'conjunto' viajante/Karrimor entrava na automotora do Vouga. Cerca de 20 minutos depois, chegava-se ao apeadeiro de Eirol, apeadeiro que continua hoje a desempenhar um papel crucial na gestão do tráfego ferroviário da Linha do Vouga, (ou não esteja ali um dos poucos locais onde há via dupla). Eirol, como ponto marcante, assumia um carácter que podemos classificar como quase simbólico. Marcava o fim da aventura anual e acendia os sentidos para a necessidade de começar a gerir uma mistura paradoxal de estados de espírito, de alguma tristeza por um lado - acabou-se mais uma e agora só para o ano -, e, por outro, da dose q.b. de alegria que se pode sempre associar ao regresso a paragens familiares. Para assinalar esse quasi-simbolismo, nada melhor do que, depois de escrever coisas no cartão InterRail como Brussel (Nord)- Luxembourg, via Arlon, ou Metz-Paris, via Chalôns-sur-Marne, 'fechar' com um Aveiro-Águeda, via Eirol.
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